04. Eu preciso muito deixar acontecer o momento da renovação
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— Afaste-se dele antes que eu chame o circo para você. — Através dos óculos de aros finos, seus olhos verdes, por um momento, pareceram estalar em chamas.
Cheng Yin foi distraído pela chegada de Yang Ge, seu aperto se afrouxou. Obviamente, Lin Shan não perdeu a oportunidade para tentar escapar.
— É você então… — Ele soltou uma risada fria.
Lin Shan chutou na direção entre as pernas de Cheng Yin, mas já esperando por algum movimento, se afastou antes de ser acertado. Esse movimento não foi o que Lin Shan esperava, mas também o ajudava. Ele se aproveitou do momento da distância e correu.
Cheng Yin, percebendo a tentativa de fuga recuperou sua posição e tentou puxá-lo de volta.
— Não se mexa. — O som da arma sendo destravada fez o ambiente ficar quieto.
A respiração pesada de Lin Shan se sobrepôs a qualquer outro som, quando ele corria até se esconder atrás de Yang Ge. Ele mal se sustentava em pé, então se escorou na parede do corredor.
Yang Ge intercalou sua atenção entre a vítima e o culpado e quando notou a vítima longe deixou seus olhos em Cheng Yin.
— Desapareça. — O homem bonito ordenou.
O braço, esticado não demonstrava fraqueza. Pelo contrário, era uma estabilidade que até mesmo poucos veteranos no exército tinham.
— Quem é você para me mandar sair de algum lugar? — Cheng Yin cuspiu com raiva.
— Vossa Excelência está dentro do meu hotel e além disso, acho que não é cego para não ver o que tenho em mãos. — Um sorriso obsequioso floresceu em seu rosto, em contraste com toda sua postura rígida e perigosa. — Agora desapareça da minha frente.
Bang.
Yang Ge atirou.
Cheng Yin pouco se importou com o prójétil no chão. O tiro acertou bem ao lado da mão que segurava o pescoço de Ling Shan. Era uma ameaça óbvia, mas ao contrário de uma reação comum de receio, ele sorriu de volta.
— Você com certeza se tornou mais corajoso. Há quanto tempo Zhuo Yang.
Tirando toda essa situação dramática e ilegal, isso parecia com as cenas de novela mexicana onde o herói salva a beleza, que Lin Shan assistia também ilegalmente.
— Perdeu o respeito pelo seu irmão mais velho? — Perguntou com uma sugestão de sorriso.
— Óbvio que não. — Deu um passo para frente. — Nunca houve respeito entre nós.
Zhuo Yang pareceu estar mergulhado em um mar de ódio, prestes a transbordar.
— É um completo desprazer Cheng Yin! — Ele bufou impaciente. — Vamos, seja um cão obediente. — A malícia disfarçada em suas palavras irritou a outra parte.
Ele sacudiu a arma, sinalizando a saída.
— Tudo bem. — O louro recuou.
Tendo uma arma apontada para si mesmo não era inteligente continuar a insistir. Ele cerrou os dentes e engoliu seu orgulho e caminhou fazendo um sinal de rendição, com as mãos para cima, toda sua postura relaxada.
— Toda essa situação, nós resolveremos depois, Ling Shan. E você, Zhuo Yang! — apontou para o homem. — Considere-se morto!
Cheng Yin, em resposta, recebeu um sorriso de negócios. O revólver só foi abaixado quando a porta do elevador se fechou.
Zhuo Yang guardou o revólver em suas costas e se virou para Lin Shan, apenas para ver o corpo dele ceder. Ele se apressou para segurá-lo e o abraçou pela cintura.
— Obrigado. — Lin Shan agradeceu com a voz chorosa, suas mãos prenderam nos braços de Zhuo Yang.
Apenas quem sentia desgraça na pele sabia o quão enorme o medo e a repulsa poderiam crescer. Era repugnante ouvir relatos de estupro, nojento ouvir aqueles estupradores confessarem seus crimes com um sorriso no rosto, como se não fosse absolutamente nada. Lin Shan sentia-se sujo e ainda mais enjoado, como se seu corpo fosse a comida estragada no estômago.
Queria se livrar de tudo.
“Como ele aguentou tudo isso?”
“Não, ele não aguentou.”
“Ele não era fraco.”
— Obrigado. — Ele repetiu. — Obrigado.
— Tudo bem, agora está tudo bem. — Zhuo Yang deu tapinhas de leve em suas costas, tentando confortá-lo.
Zhuo Yang expressava um raro sentimento de compaixão em seu âmago. Sua voz num tom que apenas Lin Shan poderia ouvir, tornou-se como uma canção de ninar para ele. O jovem cantor fechou os olhos, mas não conseguia parar de chorar.
Quando acordou novamente, se deparou com o céu estrelado através da janela. A porta de vidro estava aberta e na varanda, uma pessoa fumava um cigarro tranquilamente. Seu olhar pendia para o horizonte, como se não pensasse em nada, mas também em tudo. O fino casaco em seu corpo tremulava vagamente pelo vento. E as luzes da cidade criavam um halo de luz colorida ao redor de seu corpo.
Como uma pintura que havia ganhado vida.
Lin Shan tentou se sentar à cama e o barulho alertou Zhuo Yang. Ele esfregou o cigarro no cinzeiro desfazendo-se da cor vívida alaranjada da queima e entrou.
— Deixe-me ajudá-lo.
Lin Shan travou por um segundo antes de quase gritar.
— Não! Eu faço isso!
Ao ver o outro tremer com sua aproximação, ele permaneceu no pé da cama.
— Eu… desculpe por envolvê-lo nessa situação. — Lin Shan passou a mão na nuca, não sabia como olhar para essa pessoa. Ele o conheceu ontem por acaso e estava…
— Não há com o que se desculpar. — Suas palavras sinceras acalmaram o coração do cantor.
Este último havia abraçado os próprios joelhos e se encolhido, enfiando a cabeça entre as pernas. Seus cabelos cobriram o corpo.
— Peguei seu celular e tomei a liberdade de entrar em contato com seu médico mais cedo. — Ele viu através dos longos cabelos rosas e jovem cantor estremecer. — Pensei que seria melhor não proporcionar conteúdo para imprensa e… proteger você é prioridade nesse momento.
— Obrigado. — Lin Shan só poderia agradecê-lo.
— Também chamei sua assistente. Ela deverá chegar em breve. — Ele esfregou as têmporas. — Suas costas estão cheias de hematomas e cicatrizes, além de um hematoma grande na costela.
Lin Shan franziu a testa. O dito cujo tinha uma assistente?
— Ling Shan. — Zhuo Yang se levantou. Em pé, ele viu o outro levantar seu olhar. Somente seus olhos pretos e um chamativo cabelo rosa poderia ser visto. — É apenas uma sugestão… além de um hospital, deveria procurar um advogado.
Zhuo Yang estendeu a mão e com cuidado, afagou os cabelos de Ling Shan.
— Não resolveria. Ele poderia acusar que eu estava sob efeito de drogas. — Zhuo Yang lançou um olhar significativo para ele. — Ele foi me buscar num prostíbulo ontem.
Os dois homens ficaram se encarando.
— Eu não me orgulho disso, okay? — Lin Shan falou desanimado.
Ele só esperava que isso não o afetasse futuramente.
E continuou a encarar Zhuo Yang, que já de costas, havia tirado outro cigarro e estava acendendo-o.
Até então Lin Shan não havia notado completamente. Yang Ge se parecia muito com aquela pessoa. A forma de falar era equivalente e também, algumas similaridades em seu rosto. Porém, aquela pessoa havia partido há muitos anos.
Isso também era um fato que, contra sua vontade, dava-se por resignado. Portanto, era melhor não se lembrar e remoer sobre isso.
— Dê-me um. — Pediu um cigarro.
Repentinamente teve vontade de fumar. Embora fazia alguns muitos anos desde a última vez, sentiu essa necessidade repentina.
— Um cantor não deveria fumar.
— Um cantor não deveria fazer a maioria das coisas que eu faço. — Ele rebateu, esticando a mão.
Em vez de uma resposta, Lin Shan escutou uma risada suave quase inaudível.
A ponta do cigarro aceso tornou-se atraente na escuridão e o rosto de Zhuo Yang ficou levemente embaçado pela fumaça.
Muito bonito.
A expressão no rosto de Ling Shan fraquejou e só foi perceber que o cigarro nunca veio, quando o outro estava na porta para ir embora.
— Tente descansar por enquanto. — Ele falou enquanto calçava as pantufas de pelúcia. — Os remédios estão na cabeceira junto com a receita. Se precisar de algo, estou no apartamento ao lado. Apenas me ligue.
Ao abrir a porta, voltou seu olhar para trás.
— Ling Shan. — Zhuo Yang fez uma pausa e esperou ter a atenção do outro. — Você não é sujo, nem culpado.
Depois disso, ele saiu do quarto de hotel.
Lin Shan queria chorar, não, já estava fazendo isso. Desconhecia o motivo do porquê tão poucas palavras tinham um peso tão grande sobre ele. Mas, era a verdade. O passado o condenava esse corpo por completo, mas ele, Lin Shan não havia cometido nenhum crime!
Ainda que o outro não saiba a verdade, era bom escutar palavras tão reconfortantes e ainda que Yang Ge não pudesse escutar, o agradeceu novamente. Este homem certamente era uma boa pessoa.
Mas… tirando uma arma do nada? Esse cara era algum tipo de gângster milionário?
Era melhor ignorar isso! Provavelmente não o encontraria mais a partir dessa semana. Não havia necessidade em pensar tanto.
E, depois de um longo tempo acordado, Lin Shan caiu no sono, sozinho e desamparado.
Pela manhã, o que ele encontrou ao acordar foi o quarto de hotel cheio de pessoas. Dois seguranças estavam na porta, outro na varanda e a mulher, que provavelmente é sua assistente conversava com um rapaz mais jovem, da mesma idade que ele.
Essa era a pessoa cuja presença era tratada como ar pelo casal de patos mandarins. Um jovem rapaz que era usado como escudo para Cheng Yin, seu agente de fachada.
O melhor, ele não tinha lembrança do nome de nenhum deles.
Lin Shan fechou os olhos por um bom tempo, apenas preparando-se para mais um dia mentalmente cansativo.
— Que horas são? — Perguntou em voz alta, esfregando os olhos.
Vendo aquela pessoa acordando tão dócil, parecendo um gatinho, a assistente ficou perplexa. Lin Shan era alguém que detestava acordar cedo e seu humor pela manhã era péssimo, com uma expressão obscura que só desaparecia após uma boa refeição.
Esse era o mesmo Ling Shan que conhecia?
— Chefe Ling…
Lin Shan estreitou os olhos. A luz vinda através da porta de vidro era muito poderosa para quem tinha acabado de acordar.
Mas, para o resto daquelas pessoas, era o humor quebrado e instável de Lin Shan.
“Era apenas um lapso!”, A assistente suspirou aliviada.
— São seis e meia. — A única mulher na sala respondeu.
— Oh… — Lin Shan continuou a esfregar os olhos, muito letárgico. — Merda!
Não havia lugar em seu corpo que estivesse sem dor. Ele tateou sobre o criado ao lado da cama os comprimidos para dor.
— Qual a agenda de hoje? — Ele perguntou e em seguida, abriu uma garrafa de água. — Estou cansado demais para me lembrar… — Nem se importou com a desculpa, ele realmente não sabia.
— Chefe, se quiser podemos cancelar a apresentação hoje. Não precis… — O agente de fachada cujo nome foi esquecido há muito tempo se pronunciou.
— Ocupar a mente é a melhor coisa a se fazer. — Falou rigidamente.
Precisava fazer isso por si mesmo, pois queria esquecer aquele pedaço de merda por algum tempo. O cômodo ficou em silêncio.
— Vamos… qual a agenda de hoje? — Perguntou fingindo impaciência.
— Finalizar uma sessão de fotos para o novo álbum às dez. Quatro da tarde tem o ensaio para o Replay. — O agente falou.
— Festival de Música Replay?
Um dos maiores palcos do mundo da música, reunindo cerca de quatrocentas mil pessoas diariamente de todas as partes do planeta. Nos quatro dias de festival, dezenas de artistas de apresentam no decorrer do dia.
Ling Shan se apresentaria no dia seguinte, como atração principal da noite teria um dia de folga e no mês seguinte, entraria num avião direto para a Europa. Seria uma turnê do lançamento do álbum “Supernova” com parceria de uma empresa europeia.
— Sim, será antes do tour pela Europa.
“Oh! Parece que vou poder conhecer os alpes suíços…”, Ling Shan pensou assim que ligou o chuveiro. “Estou ansioso.”
Meia hora depois, Lin Shan saiu muito bem vestido. Ele vestia uma camisa social branca e pegou a calça menos destruída e um par de botas. Como estava preguiçoso, apenas penteou o cabelo e deixou solto. Colocou algumas pulseiras, um anel e um brinco preto. Nos lábios, apenas um hidratante sem cor.
Pareceu totalmente diferente do estilo habitual, punk e extravagante. A retirada daquela extravagância ressaltou a beleza natural. Ele parecia mais uma pessoa e não um pedaço de escuridão mórbida.
Até mesmo os seguranças ficaram surpresos. Havia uma expressão de “Quem é esse?” em seus rostos.
— Consegue arrumar um cabeleireiro? Esse rosa no cabelo está me deixando desconfortável.
A assistente: “Não tem três dias que você pintou?”
— Vou falar com Han Yun. — A assistente respondeu.
— Também quero cortar um pouco.
O agente: “Não era você o obcecado pelo cabelo grande?”
— Sim…
As cinco pessoas na sala, incluso os seguranças por debaixo dos óculos, estreitaram os olhos. Todos estavam confusos.
— Vamos, vamos lá! Eu não quero me atrasar! — Falou o rei dos atrasados.
Essa boa pessoa, no entanto, tinha o rosto preto quando acordou pela manhã. Dois homens de terno mal esperaram ele sair do quarto do hotel e se aproximaram dele no corredor, ambos visivelmente nervosos.
Os dois eram idênticos, mas um deles carregava um tablet. Este último se curvou rapidamente antes de falar:
— Chefe, aconteceu algo.
— Diga. — Suas sobrancelhas se franziram com severidade.
— É melhor o chefe ver. — O homem deslizou o dedo pela tela do dispositivo e entregou ao seu chefe.
“Agente do cantor Ling Shan sai às pressas do hotel X após sons de disparos na cobertura”
Ele franziu a testa.
— Encontre a toupeira[1] e traga-o para mim.
***
Notas da Autora:
O título do capítulo é uma parte do trecho, dito por Caio Fernando de Abreu: “Eu preciso muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor. Tenho sentido necessidades do novo, não importa o quê, mas que seja novo, nem que sejam os problemas. Preciso deixar a casa vazia para receber a nova mobília. Fazer a faxina da mente, da alma, do corpo e do coração. Demolir as ruínas e construir qualquer coisa nova, quem sabe um castelo.”
Combina bastante com nosso mc!
***
Glossário:
[1] Toupeira: refere-se a um traidor.