06. Da morte apenas, nascemos imensamente
Já na entrada do local para as apresentações, Ling Shan sentiu-se especialmente nervoso. Ainda estava desacreditado de tudo que veio acontecendo nas últimas quarenta e oito horas.
Estava realizando seu sonho de subir ao palco. Era tentador demais, esclarecedor demais, felicidade demais! Sentiu que a qualquer momento poderia chorar e um sorriso brilhante e incomum permanecia no seu rosto.
Todos os seus funcionários estavam atordoados com aquele sorriso e a ocorrência de um único pensamento, interligava suas mentes: “O chefe está estranho.”
Sem perceber isso, Ling Shan saiu do carro com um óculos escuros no rosto e as mãos no bolso. Ninguém sabia o quão trêmulas suas mãos estavam.
Havia uma aglomeração de repórteres e fãs, inúmeros flash’es em sua direção. Assim que sua presença apareceu, uma agitação iniciou. Os seguranças de aproximaram.
Mesmo Ling Shan não sendo o verdadeiro, ele entendia os perigos de ser uma pessoa tão visada. Sempre poderia ter um lunático à espreita e isso já havia ocorrido algumas vezes com a pobre alma desse cantor. Fãs enlouquecidos forçando entrada em hotéis, invadindo o palco, camarins… O episódio mais recente era sobre aquele fã masculino.
Ling Shan não sabia como aquela pessoa descobriu, mas ele basicamente se hospedou secretamente em um hotel. Devido a isso, não levou muitos seguranças. Uma bela manhã, ele acordou sentindo-se bastante animado e decidiu experimentar alguns brinquedos. Entretido em meio aos dildos e vibradores, consumido pelo prazer, ele não percebeu aquele fã entrando no quarto de hotel.
Aquele rapaz tentou atacá-lo de verdade. Se não fosse por Ling Shan sempre ter um dispositivo de emergência perto, provavelmente, naquela época, ele deveria ser estuprado por aquele fã.
Ele desvencilhou de suas memórias e caminhou em frente, sem cumprimentar os fãs. Por enquanto, ele tinha que manter uma atitude fria como o original. Embora gostasse do público, nenhum dos Ling Shan’s sabia como entretê-los e também sentiam-se intimidados por esse excesso de carinho.
Já dentro do parque de exposições, um guia veio ajudá-los a se encontrar dentro do ambiente. O rapaz era jovem, próxima à idade de Ling Shan, mas ele se sentia intimidado perto dele, ainda mais conhecendo a péssima reputação dessa pessoa.
O jovem rapaz se apressou o mais rápido que pôde para se livrar dessa pessoa.
— Parece que ele está com medo de mim? — Se aproximou de Donnah.
— É apenas impressão sua, chefe. — A mulher respondeu.
O que há com essa pessoa? Por que tão diferente? Ele bateu a cabeça numa pedra?
— Deve ser…
A caminhada não demorou muito. Tal fato tinha sido providenciado pelo próprio Ling Shan, o que era realmente estranho pois um sedentário por completo poderia ter preguiça até de fazer essa curta caminhada.
Logo, eles chegaram no local onde ficariam. O camarim exclusivo do cantor estava pronto para uso, com todo tipo de exigências estranhas: todo o ambiente deveria estar em tons de cinza, preto e dourado, toalhas deveriam ser brancas e bordadas com seu nome, deveria ter uma foto de um astro do pop antigo aleatoriamente, deveria existir exatas três garçonetes: uma loura, uma morena e uma ruiva e tudo deveria estar em pares, ou seja: dois sofás, duas lâmpadas, etc.
Além de tudo isso, deveria ter uma banheira no camarim. Olha, isso era bom! Tomar banho, por Ling Shan, era uma das sete maravilhas em sua vida! Isso ele entendia o outro “eu” dele.
Nem a própria pessoa que pediu tais exigências entendia o porquê. Ling Shan só se sentia mais calmo.
Mas, porquê vir tão cedo? Era o único horário vago que este cantor teria no dia.
Ele bocejou ao entrar no camarim, Donnah e o gerente laranja entraram atrás. Aliás, seu nome é Joel, é o primo mais novo de Donnah. Ps: Foi pesquisado na internet.
Dentro da sala, tudo estava preparado. Até mesmo as três garçonetes. O cabeleireiro estava a caminho, o atraso era devido ao trânsito infernal da cidade H.
Entediado, Ling Shan saiu para brincar um pouco. Todos ficaram receosos, mas como ele era o chefe não havia o que fazer. Assim que ele saiu, Joel finalmente falou:
— Prima, o que aconteceu com Ling Shan?
— Ah… eu não sei! — A mulher na casa dos trinta suspirou. — Mas, Cheng’e o encontrou num bordel alguns dias atrás… Ele fugiu dos seguranças, bebeu, se drogou e ele realmente queria se vender para um grupo de homens. Cheng’e o encontrou delirando por um afrodisíaco num quarto com seis homens… — Sua voz baixou e suavizou quanto mais ela falava. — Eu espero que esse garoto, dessa vez, entre no caminho.
Assim que Donnah finalizou, lançou um olhar de advertência para as três garotas no canto da sala e foi confortar o seu pequeno primo, imerso na compaixão por seu empregador.
Por outro lado, Ling Shan, que se sentia enjoado, passeou pelo ambiente do show. Embora sua presença fosse marcante, ninguém se aproximava, pois o temperamento explosivo e instável daquela estrela era muito conhecido.
O que era considerado pelo próprio algo bom. Ele realmente queria ficar sozinho.
— Ling Shan. — Um chamado o despertou de seu mundo.
O dono daquela voz era repugnante.
Cheng Yin estava parado em sua frente, debaixo dos olhos, um par de olheiras escuras. Sua aparência cansada.
— Diga o que quer e desapareça da minha frente.
O tom ríspido e infeliz, chamou atenção de quem estava passando perto. Elas aguçaram o ouvido, provavelmente viria um grande espetáculo.
— Gostaria de me desculpar por ontem. Sinto que passei um pouco dos limites. — O olhar vacilante e triste.
“Era assim que Ling Shan o perdoava? Quão estúpido!”
A veia da testa em Ling Shan cresceu. Estava realmente irritado.
— Um pouco? — Ele riu com raiva. O corpo todo tremia, assustado, mas não demonstraria fraqueza na frente desse cachorro! — Não quero saber quando você passa “muito” dos limites…
Chen Yin deu um passo para frente, a fim de se aproximar. Em reflexo, Ling Shan se afastou.
— Não se aproxime!
Algumas pessoas em volta, pararam suas atividades furtivamente. O segurança que acompanhava Ling Shan, ao longe, queria se aproximar, mas foi parado por um olhar assustador de Cheng Yin e por fim, recuou.
No mundo do entretenimento, notícias falsas e rumores estranhos sempre circulam. Com Ling Shan era o mesmo, quer dizer, isso acontecia principalmente com ele. Uma grande estrela sempre atrai esses buracos negros que engolem qualquer coisa aleatória.
Havia um rumor circulando há alguns meses, que foi parar até mesmo nos grandes sites de fofoca. Aliás, um rumor extremamente confiável. Ling Shan, teria um caso com Cheng Yin.
Isso surgiu após um paparazzi flagrar os dois homens numa boate gay. Segundo o colunista responsável pela notícia, comprovado por foto, após a noite agitada, foram encontrados em uma situação embaraçosa por um fã que passava em frente a um beco e acabou, furtivamente, tirando uma foto deles.
A matéria esclarecia, que o noivado e casamento de Cheng Yin era puramente falso, apenas para encobrir o caso e a vergonha dentro da família.
Na época, tudo foi tão explosivo que ninguém sabia para onde atirar tal fofoca.
Felizmente, esse rumor foi suprimido ao ser “comprovado” que a foto era uma montagem muito bem feita por aquele ‘fã’. A verdade por trás, foi que o dinheiro comprou todos os envolvidos naquela notícia. Até mesmo investigadores e policiais.
No entanto, a dúvida, quando é atiçada, sempre estará rondando as mentes. Sempre teria alguém que duvidaria da verdade.
— Estou falando sério! Se aproximar mais, eu vou pedir que você seja proibido de entrar! — A voz de Ling Shan saiu mais alto do que deveria.
— Quer fazer uma cena aqui, Ling Shan? — A severidade tomou Cheng Yin.
— Minha reputação não é a melhor, se você esqueceu, Cheng Ge.
O homem louro riu.
— Parece que está pretendendo se rebelar totalmente, não é mesmo?
— Poupe-nos dessa discussão! Já disse que não…
— Venha comigo. — Cheng Yin puxou o braço de Ling Shan com força.
— Suas desculpas não parecem ser sinceras Cheng Yin… Solte-me enquanto não fiz um escândalo! — Todo seu corpo rejeitava aquele toque asqueroso.
De repente uma voz surgiu, interrompendo a briga.
— Cheng Yin, quanto melhor tratamos nossos artistas, melhor os resultados posteriormente. — Ele sorria brilhantemente, parecia tão bom quanto a brisa da primavera.
Oh! Um lindo show!
— Zhuo Yang. — O louro cerrou os dentes. — Quer me ensinar a fazer meu próprio trabalho? — Ele largou o pulso de Ling Shan com relutância.
— Yang Ge? O que faz por aqui? — Ling Shan massageou o pulso, extremamente desconfortável, provavelmente ficaria vermelho mais tarde.
Toda a figura de Zhuo Yang parecia excelente. Fosse o belo par de pernas dentro da calça social. Ou todo o torso envolto naquela camisa branca também social, com dois botões abertos. Seus cabelos foram devidamente alinhados e penteados. Ele realmente parecia um modelo de capa de revista.
O homem continuou com um sorriso no rosto e estendeu a mão:
— Deixe-me apresentar formalmente. Meu nome é Zhuo Yang, empresário, produtor musical e modelo.
Realmente, um modelo…
Meio atordoado, Ling Shan estendeu a mão de volta.
— Atualmente, sou o responsável pelo evento. É um prazer conhecê-lo, Sr. Ling.
— Não seja tão formal! Vou me sentir um velho! — Respondeu cordialmente. — Sinto-me lisonjeado em conhecer alguém tão bonito, peço desculpas por não o reconhecer!
— Não é incomum, embora eu faça alguns trabalhos como modelo, não gosto muito da mídia.
“Oh! Faz sentido! Quem iria esquecer um rosto tão bonito assim!”
— Então é isso! — Ele parecia esclarecido.
Zhuo Yang deu uma risadinha. Na verdade, ele era um rosto muito conhecido, mas essa pessoa não o conhecia.
Olhando mais de perto, Zhuo Yang achou o cantor adorável e muito bem educado.
“Os rumores estavam errados?”
“Ainda mais bonito que ontem!”
“Pessoalmente, ele parece mais bonito, sem aquele terror de maquiagem e roupas extravagantes!”
“Ele… não parece o rapaz que me vendia a guitarra?”
“Vou ficar de olho…”
“Pare de me encarar assim, minhas pernas vão fraquejar!”
O ignorado Cheng Yin tossiu, chamando por atenção.
— Precisamos terminar nossa conversa.
— Ele está incomodando? — Zhuo Yang tirou os olhos de Ling Shan, desviando-os para o corno louro e deu um sorriso de raposa. — Sabe, ainda posso presenteá-lo com alguns doces de pólvora.
Se alguns dos subordinados de Zhuo Yang visse sua atitude, provavelmente achariam que ele foi possuído por algum espírito. Um homem como ele nem mencionaria ajudar alguém!
— Seria ótimo, mas eu acredito que possa resolver isso. — Desviou o olhar para o lado, as orelhas vermelhas.
O mais velho estreitou os olhos.
— Vou me retirar primeiro, Yang Ge. — Ling Shan se apressou. Ele não iria suportar mais olhar para essa pessoa e voltou seu olhar para Cheng Yin. — Vamos pro camarim, o cabeleireiro deve ter chegado…
— Nos vemos mais tarde. — Despediu-se simpaticamente.
A visita ao parque foi bem rápida por causa desse encontro e o humor, já péssimo de Ling Shan tornou-se mais áspero.
Ele não percebeu que Cheng Yin tinha uma expressão ruim no rosto.
Ao passarem por um local mais tranquilo, Ling Shan foi colocado contra a parede.
— O que mais você quer de mim?
O corpo de Cheng Yin o cercava completamente. Seus braços ao lado do corpo de Ling Shan e por ser mais alto que ele, também o olhava de cima.
— Vou avisá-lo uma última vez. — Sua voz era baixa e seu tom, ainda que perigoso, era hipnotizante. — Não faça nada estúpido, suas atitudes só irão lhe levar ainda mais para baixo. Não acha baixo o suficiente até mesmo para você?
Ling Shan não sabia se precisava deixar mais margem à raiva ou ao medo.
— Já acabou? — O cantor arqueou a sobrancelha, tentando se manter firme.
Toda essa cena, lembrava-o da noite anterior. Fosse a atmosfera ou a abordagem, mas Ling Shan ficou tonto. Tomou coragem e segurou o braço do outro da frente e saiu pisando fundo.
O empresário foi deixado para trás, debruçado sobre a parede, com um sorriso vencedor.
“Eu ainda tenho muito controle sobre ele…”
Não muito longe dali Ling Shan após esbarrar em um funcionário, correu direto para o banheiro para vomitar. Era pior do que ele imaginava.
Ele lavou o rosto e se olhou no espelho. Mais do que nunca, ele queria se afastar dessa pessoa.
Ah… Não! Não bastava somente se afastar.
Essa pessoa deveria pagar pelo que ela cometeu.
Fundo do poço? Heh… Ele puxou o ar lentamente.
“Vou lhe mostrar o que é o fundo do poço!”
— Filho da puta, apenas espere…
***
Notas da Autora:
“Da morte apenas, nascemos imensamente.” — Vinícius de Morais.