11. Alguém do passado
— Você tinha razão. — Zhuo Yang falou, enquanto caminhava com as mãos no bolso, já na entrada do hotel.
— Sobre o quê? — Ling Shan perguntou e olhou para trás, tinha a sensação que estava sendo seguido.
A esse horário, a temperatura havia caído e a noite havia se adentrado, mas as luzes e outdoors na cidade H deixava tudo como um grande festival ao som dos motores e buzinas dos carros. Parecia uma rotina comum, mas ele se sentia estranho.
— É o melhor macarrão que já comi. — Tirou uma das mãos para abrir a porta de entrada e a outra passou pela cintura de Ling Shan.
O segurança na portaria cumprimentou o chefe com um aceno e ele lhe devolveu enquanto Ling Shan atravessava para dentro do prédio. No seu bolso, o celular vibrava constantemente.
— Não vai atender? — O cantor perguntou.
— Se for algo importante, ligará de volta. — Fechou a porta atrás de si.
Eles caminharam lado a lado até a recepção em silêncio, onde Zhuo Yang se despediu. O celular tocando mais uma vez.
— Bem, parece importante. — brincou.
— Sim… tenha um boa noite, vou ficar por aqui mesmo. — Ele parecia um pouco apressado e impaciente com tal ligação.
Zhuo Yang saiu e foi até a área de lazer do hotel e Ling Shan, com mais alguns passos chegou até o balcão e avisou da visita de Chun Hai no dia seguinte.
O cantor se direcionou mais uma vez ao seu quarto de hotel.
Havia alguns dias que estava ocupando esse corpo e sua vida virou do avesso. Sua cabeça ainda permanecia confusa com todos esses acontecimentos. Encostou a cabeça na parede do elevador.
“Quero fumar…”
Em algum momento o elevador havia parado e várias pessoas tinham entrado.
“Eu realmente preciso disso”
Ling Shan soltou um suspiro alto chamando atenção de todos ali dentro, mas ele não havia percebido esses olhares e também quase perdeu o momento de sair.
O corredor branco o deixou desconfortável. Ele cerrou os punhos e começou a andar.
Cada passo pareceu puxá-lo para baixo, como se a gravidade da Terra tivesse subido a ponto a se comparar com a de Júpiter ou Saturno. As paredes brancas pareciam lembrar do contraste que Cheng Yin tinha contra ela, elas pareceram aumentar gradativamente assim como sua respiração.
“Apenas mais alguns metros…” ele murmurou para si mesmo, tentando se acalmar.
Ele apertou os punhos com mais força, suas unhas cravando na palma da mão, o leve incômodo ajudando a mantê-lo focado. Mas isso não impediu a tontura e a náusea que se formavam, deixá-lo mais ansioso. Ling Shan piscou várias vezes tentando ficar de pé.
A sua frente, o número da porta, parecia dançar com a sua visão, enquanto tentava acertar o dedo sobre o sensor digital para abrir a porta. Encostou a testa na porta, já completamente suado.
— Shan?
Ele fechou os olhos com força e os abriu novamente. Devagar, ele virou a cabeça para o lado.
— Shan o que você tem?
— Ai’er? Ajude-me a entrar.
Ling Ai que estava ao seu lado, apressou-se em ajudá-lo. Ele o agarrou pelo braço, ajudando-o a abrir a fechadura eletrônica. O irmão mais velho estava pálido e suas pernas estavam fracas e por fim, acabou colocando todo o peso sobre o adolescente.
Mas, assim que entrou no quarto, ele sentiu ânsia de vômito e correu para o banheiro. O macarrão delicioso havia descido pela descarga.
— Ge, quer que eu chame o doutor? — Perguntou de fora do banheiro.
— Não precisa. — Ling Shan respondeu, ainda levemente tonto. — Só preciso descansar um pouco. Eu vou ficar bem, então não se preocupe.
— Ge…
— Estou bem. Nos falamos depois. — Deu-lhe um abraço apertado. — Me desculpe bolinho… agora eu realmente preciso descansar.
Retribuindo o abraço, como se fosse a última vez que se vissem, Ling Ai sentiu o coração doer pelo irmão. Ele queria ter estado presente para, no passado, mesmo que não pudesse fazer nada, simplesmente poder abraça-lo. Mas, o que poderia fazer? Um adolescente sem voz não era capaz de mudar nada!
Ele saiu do quarto com os olhos marejados.
Ling Shan se deixou mergulhar na escuridão, o frio do quarto ajudando a acalmar o calor do seu corpo. Ele sabia que Ai’er estava preocupado, mas não queria que ele visse o quão mal estava se sentindo. Ele tinha que ser forte, não apenas por Ling Shan, mas também por Lin Shan.
Ainda assim, apesar da ansiedade, o cantor também sentiu algo diferente. Uma estranha sensação de calma o envolveu. Ele não entendia o que estava acontecendo, mas de alguma forma, sentiu que iria ficar bem. Precisava estar bem para enfrentar o futuro.
♫
Na manhã seguinte, Ling Shan acordou com alguém batendo em sua porta freneticamente. Fosse pela irritante luz matinal ou pelo horário que marcava no despertador, seu humor tornou-se péssimo. Ele se enrolou no lençol, calçou as pantufas e caminhando até a porta, ignorou o olho mágico.
— Porra, quem é tão cedo. São seis e meia! — resmungou baixinho.
Jaqueta de couro, camisa social e gravata, calça jeans surradas e um par de tênis de luxo, apontando sua origem. Os cabelos pretos e cacheados caíam em camadas, olhos amendoados, nariz com a ponte reta e lábios finos. A barba por fazer, era extremamente gostosa em fazer sentir cócegas quando ela roçava contra a pele. Ele era tão alto quanto Chefe Zhuo e seu corpo, Ling Shan conhecia em primeira mão, e ah!…
Ele tossiu ao perceber que o encarava demais.
— Vamos, entre homem bonito! — Ling Shan o puxou pela gravata trazendo-o para dentro do quarto e fechou a porta atrás dele.
Chun Hai, como um detetive experiente, analisou esse cantor, mas não conseguiu descobrir que tipo de serviço ele poderia ter. E, levando em conta do que alguns clientes já solicitaram sobre essa figura pública, tornava ainda mais difícil perceber.
— Sr. Ling ainda não esclareceu como conseguiu meu contato pessoal. — O detetive questionou, fazendo uma varredura pelo apartamento.
— Sente-se. — Ling Shan convidou. — Gostaria de um chá ou alguma bebida?
— Não, obrigado.
Chun Hai se sentou despojado no sofá, como se realmente estivesse em sua própria casa. Foi essa vibe bad boy desinteressado e olhar sonolento que atraiu Lin Shan inicialmente.
— Só um segundo, vou vestir um par de roupas. — Sorriu dando as costas para Chun Hai.
O lençol branco caiu sobre a cama. A tatuagem de caveira cobria completamente suas costas, indo da nuca até o final da coluna. Ling Shan não gostava de dormir com roupas. Além disso, o cantor estava acostumado com a presença de Chun Hai, então ele o fez sem perceber.
Chun Hai fixou seu olhar naquela tatuagem por um momento, e em seguida, desceu um pouco mais cobrindo a parte traseira do quadril. Ele deu um sorrisinho maldoso.
Com cuidado, Ling Shan colocou uma camisa preta em tamanho oversize e uma calça jeans, a modelagem mais próxima ao corpo e amarrou o cabelo em um coque. Ele sentou ao lado do policial no sofá.
— Vou ser direto. Tenho duas frentes de investigação. A primeira é sobre meu empresário. — Falou e o detetive arqueou a sobrancelha. — Gostaria que levantasse tudo sobre ele, desde a marca da cueca que a mãe comprava para ele até com que roupa ele sairá esta manhã.
Chun Hai ficou pensativo. Era a terceira pessoa que pedia isso para ele nos últimos dois anos.
— Posso saber o motivo? — Questionou. — Não posso aceitar o trabalho se isso me colocar em risco.
Ling Shan deu uma fraca risada e seu olhar ficou mais afiado.
— Se eu dissesse que gostaria de matá-lo, aceitaria? — Deslizou a ponta da língua pelos lábios.
O movimento atraiu a atenção do detetive para aquela região, mas logo retornou aos olhos arrogantes.
— Não poderia aceitar.
O cantor deu uma risadinha travessa.
— Isso é bom… Só quero me desligar completamente do animal. Entenderá melhor do que eu falo quando tiver tudo em mãos. — Respondeu com sinceridade e encarou aqueles olhos sonolentos.
Ling Shan não podia negar que se sentia abalado com a presença de Chun Hai. Depois do primeiro amor, a pessoa que marcou completamente sua vida, só houve Chun Hai que foi tirado dele a força.
Eles não eram a mesma pessoa, mas ainda assim, não podia deixar de sentir essa apreensão.
— E o segundo pedido?
O cantor se levantou e deu a volta no sofá, e foi até o aparador, puxando um cigarro e acendendo-o. Tinha sete anos desde a última vez que colocou um cigarro na boca.
— Uma mulher, na casa dos cinquenta anos, acredito ser viúva, moradora do bairro C. Seu nome é Ji Biyu. Ji, de ‘puro’ e Biyu, de ‘jaspe’, a pedra preciosa.
Chun Hai sentiu-se curioso quanto a isso. Sobre Cheng Yin era normal querer saber mais, mas uma mulher desconhecida… Bem, ele não tinha nada a ver com isso. Ling Shan, como qualquer outro, era unicamente um cliente e não precisava saber de muitos detalhes.
— Que tipo de informação?
— Qualquer coisa entre 1998 e 2002. — Ling Shan deu uma tragada e pensou um pouco antes de responder. — Principalmente o endereço atual e, no passado, entradas em hospitais e na maternidade. Se aparecer o nome de Ling Zhan nas investigações, você pode encerrar. Não é necessário continuar.
O detetive pegou a dica e deu um sorriso pequeno. Muita informação interessante juntava em torno de uma única pessoa.
— Vai aceitar o trabalho? — Perguntou diretamente.
— Com uma única condição. — Chun Hai se levantou, passando a mão em seus jeans velhos.
— E qual seria essa condição? — Ling Shan perguntou, levantando uma sobrancelha.
Chun Hai fez uma pausa, olhando diretamente nos olhos de Ling Shan.
— Gostaria que viesse a um local comigo. — Chun Hai disse, sua voz séria. — Não é algo extraordinário, minha sobrinha é sua fã. — Fez uma pausa. — É aniversário dela. — Ele desviou o olhar, passando a mão na nuca, envergonhado.
Embora esse bad boy policial tivesse uma aura de gângster, ele era como um cachorrinho abandonado e também muito amável com sua família.
Ling Shan soltou a fumaça do cigarro e sorriu.
— Tudo bem, você tem a minha palavra. — Ling Shan respondeu, estendendo a mão para Chun Hai. O detetive olhou para a mão estendida por um momento antes de apertá-la firmemente. — Quanto tempo precisa? Um mês?
— Dê-me uma semana para o dossiê completo de seu empresário. Ji Biyu levará mais tempo. São informações difíceis de conseguir. — Franziu a testa — Ligo para confirmar o pagamento e… — Ao perceber que ainda segurava a mão de Ling Shan, seu rosto ruborizou — eu ligo.
Chun Hai se afastou, andando até a porta e saiu sem se despedir.
Uma risada tomou conta da sala.
“Ele é o mesmo…”
Mas, rapidamente seu humor despencou. Havia Ling Ai no quarto ao lado, estava ansioso para o que iria fazer em seguida. O garoto não podia voltar para casa, pois do que havia memórias do patriarca Ling, todas eram muito traumáticas para o original. E o tratamento frio que Ling Zhan tinha com o seu filho mais novo deixavam-no preocupado. O histórico de agressão familiar desse homem não era pequeno.
Mesmo acamado e doente, um homem tem capacidade enorme para ferir com sua língua, causando uma dor psicológica capaz de marcar a vítima eternamente. O caçula já tinha traumas suficientes e, embora ele não pudesse ser confiável, tendo problemas por todos os lados, queria ajudar essa criança. Fosse por ele ou pelo original.
Sentiu os dedos quentes. A ponta do cigarro queimou os dedos e ele deixou que ela caísse no chão, amassando-a com os pés, Ling Shan abaixou-se e jogou a ponta no lixeiro.
Olhou para o violão do lado da cama e decidiu espairecer a mente. Aos poucos a música preencheu seus ouvidos, sua mente e todo o quarto do hotel. As notas musicais fluíram através das cordas perfurando a ansiedade e o acalmando aos poucos. Ele também acendeu outro cigarro.
Deitado e de olhos fechados, sua audição estava mais afiada, mas ele não notou que Donnah e seu pequeno agente cujo nome ele nunca se lembrava, entraram o quarto de hotel. Ele cantarolava a versão de uma música que sua banda preferida havia regravado.
— Estou implorando, implorando a você… então estenda sua mão amorosa, baby…
Donnah, com um sorriso no rosto, pegou o celular e tirou uma foto de Ling Shan. Uma expressão tão natural era difícil ser capturada.
No entanto, antes que pudesse tirar outra foto, Ling Shan abriu os olhos, mas não percebeu a presença de mais alguém no quarto. Seu olhar era calmo, quase indiferente e ele não parou de tocar o violão. Donnah, percebendo um momento raro, continuou a capturar a imagem de Ling Shan.
Era como se ele estivesse num mundo só dele. O pequeno agente, por outro lado, achou que estava sob o efeito de drogas, a expressão era a mesma.
Ele fechou os olhos novamente e se sentou na cama. Logo depois, abaixou a cabeça, os cabelos caindo sobre o rosto, jogando-os para trás noutro movimento.
— Jiejie quando chegou? — Colocou o violão de lado.
Donnah sorriu e teclou algumas vezes antes que o cantor recebesse uma mensagem. Ela acenou com a cabeça para que ele verificasse seu aplicativo de mensagens.
— Tem dois quartos de hora que chegamos. — Respondeu ela, olhando para o violão que foi deixado de lado.
Havia alguns meses que esse objeto não era tocado. Ling Shan só o usava quando estava prestes a ter um de seus surtos e provocar um escândalo. Donnah ficou surpresa ao notar um sorriso tão agradável em sua face.
— Se um dia quiser se demitir, shijie… — Seus olhos haviam um brilho de felicidade — você pode trabalhar como fotógrafa.
— Chefe parece estar de bom humor hoje. — A mulher comentou.
— Estarei saindo as compras hoje Donnah! — Saltou para fora da cama, puxando um coturno para seus pés. — Chame, Ai’er! Vamos comprar uma casa.
— Certo, vamos comprar uma casa…
A assistente por um momento concordou, mas logo percebeu a gravidade da situação. Comprar uma casa?
— Chefe, o que você…
— Ling Ai saiu de casa. — Falou ao amarrar o cadarço. — Não posso hospedá-lo na mansão, quando não vou aquele lugar há anos. Gostaria de colocá-la a venda.
Ling Shan não pareceu estar brincando, seus olhos semiabertos e um pequeno sorriso brincando em seus lábios.
Duas horas depois, Ling Ai que havia sido pego na escola e os outros três estavam em frente a um condomínio renomado, não muito longe do centro da cidade e era próximo a casa dos Ling.
Segundo o corretor, o condomínio era o mais seguro em todo o leste de Huaxia. Um exagero, porém, certamente não havia como negar a segurança nesse lugar que possuía a mais alta e refinadas tecnologias voltadas a segurança.
— Shan não tem a mansão? — O irmão mais novo olhou inocentemente para o irmão mais velho.
O mais velho abriu um sorriso travesso.
— Cansei de morar naquele lugar. — Mentiu descaradamente e Ling Ai fingiu que acreditou.
Quando o irmão costumava mentir, seus lábios arqueavam em falsidade, uma expressão cheia de amargor que ocupava a mesma face que raramente ocupava-se de um sorriso verdadeiro.
— Perdoe-me por ontem, Ai’er. Sinto-me envergonhado em lhe mostrar um lado tão feio para você. — Ling Shan falou.
Era um dos arrependimentos que o original tinha ao morrer. Tinha vergonha do que havia se tornado, vergonha em demonstrar um lado tão baixo para o irmão mais novo.
Atrás dos irmãos, o pequeno agente laranja arregalou os olhos. Estava assustado com essa mudança! Eram o que eles diziam sobre melhora antes do surto? Muito assustador. Deveria relatar os passos de Ling Shan a Cheng dage?
— Primo, vamos!
O pequeno agente laranja despertou de seus devaneios e se apressou para a entrada do edifício, onde todos o olhavam com desconfiança.
— Desculpe! Desculpe! — Ele fez várias meias-reverências.
O corretor era um homem baixinho, com algum problema de calvície e não falava muito bem, parecia estar com medo de algo. Ling Shan caminhou pela sala do apartamento, muito espaçoso e com uma porta de vidro enorme que trazia a iluminação natural para dentro.
Do lado de fora, ele avistou uma jacuzzi. A vista para a cidade H também era incrível e devido a altura do edifício, era possível, ao longe, enxergar o porto. Um local que exalava arrogância.
— Senhor Ling, o que acha? — O corretor esfregou as mãos uma na outra nervosamente.
Ling Shan voltou seu olhar para trás, parecia indiferente a quaisquer palavras daquele homem. Sua apresentação havia sido horrível e ele não sabia vender corretamente. O corretor parecia suar por debaixo da roupa.
O cantor parou por um momento, encarando o vendedor. Todos, até mesmo Ling Ai, ficaram tensos com isso. Mal sabiam eles…
O apartamento era tão grande que ele poderia se perder! Nunca em sua vida ele tinha entrado em lugar tão grande e luxuoso!
“Porra! Como é bom ser rico!”
Apenas o quarto principal era maior que toda a sua casa em sua vida passada! O banheiro era do tamanho de uma cozinha! Obviamente, a mansão tinha suas vantagens, mas para alguém que quase não está em casa, era um desperdício manter uma mansão. Um apartamento já era o suficiente.
Essa cobertura já era o suficiente.
— Irmãozinho, você gostou? — Perguntou ao mais novo.
— É bonito.
Ele pensou por alguns segundos e continuou:
— Também fica próximo ao colégio.
Ling Ai, de repente, notou na maneira como a luz incidia sobre o irmão mais velho, destacando todas as suas fraquezas. O irmão mais velho sempre foi ‘abençoado’ com a magreza dos Ling, mas esse físico atual do irmão era completamente anormal.
Ele nunca havia dito em voz alta, mas tinha pena do irmão e também muito orgulho dele. Foi por isso que decidiu crescer bem e não dar trabalho para que seu irmão mais velho não se preocupasse.
Ling Shan olhou para o irmão mais novo com um sorriso brilhante.
— Está decidido. Onde assino o contrato?
O senhor de meia idade finalmente deu um sorriso de verdade.
♫
O celular vibrou em seu bolso. Ling Shan estava na porta do carro e encostou as costas na lataria para atender a ligação.
— Isso foi rápido, Sr. Chun.
∟Vou lhe mandar o endereço. Trate de ir até lá. — falou apressado. — Também mandei os valores por mensagem de texto. Metade do pagamento antes, e o restante no dia que receber o dossiê.
O cantor afastou o celular do ouvido para olhar a mensagem de texto. Alguns zeros proeminentes se estendiam após aquele um. Não era surpreendente o valor devido a quantidade de informações e sobre quem eram.
O mundo do entretenimento possui múltiplas camadas, ele nunca foi ingênuo quanto a isso e sempre soube dos riscos que poderia ter ao ingressar nele. E uma dessas camadas pode ser o crime, principalmente, a troca de favores que pode culminar em morte. Embora fosse um policial, ele corria ainda mais riscos investigando em particular.
Segundo Zhuo Yang, Cheng Yin estava fraudando contratos, o que era algo que poderia causar muitos danos por inúmeros caminhos.
Sua mente acelerou na velocidade da luz, traçando trajetórias, calculando a explosão, quando e onde ela poderia acontecer. Uma supernova definitivamente não seria agradável, mas se fosse algo dentro do berçário estelar*, mesmo que a composição gasosa fosse um pouco além do esperasse provavelmente lhe renderia uma estrela perfeita.
“Uma nebulosa* formada de uma supernova seria catastrófico.”
∟Ling Shan?
— Desculpe, me distraí por um momento.
∟Estava dizendo que estou ansioso para vê-lo visitar minha sobrinha.
— Não tem medo que eu faça algo errado, Sr. Chun?
∟Posso segurá-lo se isso acontecer.
— Trate de fazer isso com bastante força. — Respondeu sugestivamente. — Estou desligando…
Ling Shan precisou cortar a ligação rapidamente e abriu a porta do carro. Paparazzis com sangue injetados nos olhos vinham em sua direção.
— Tio Kin, acelere! — Ele falou enquanto entrava. — Esses malditos! — Bufou ao se jogar no banco.
— O que houve, Shan? — Ling Ai perguntou.
— Paparazzis. — Respondeu diretamente. — Não se preocupe.
De repente, aqueles que pareciam transeuntes comuns, mostraram suas verdadeiras faces. Eles retiraram suas câmeras e, ao se aproximarem do carro, começaram a disparar cliques incessantes. O som do obturador repetindo-se a cada instante preenchia o ar ao redor do veículo, enquanto os paparazzis, enlouquecidos, elevara seu tom de voz para despejar um interrogatório.
O tumulto começou a atrair olhares curiosos.
— Merda!
Ling Shan deu um tapa no estofado. Isso assustou Donnah, que estava sentada no banco do passageiro.
— O que o chefe deseja fazer? — Tio Kin questionou, olhando pelo retrovisor.
— Se não fosse ilegal, poderíamos passar por cima deles.
Dentro do veículo, de repente, houve um silêncio desconfortável.
— Desculpe, não quis dizer isso.
— Quis sim, Shan. — O mais novo dos Ling falou por todos.
Ling Shan abaixou a cabeça, deixando os cabelos cobrirem seu rosto, envergonhado. Sua língua, foi ela quem o privou de tudo em sua vida anterior. Ele suspirou, controlando seu humor.
— Tudo bem… — Ele relaxou o corpo e deixou seu corpo cair sobre o banco. — Queria ser como seu primo Donnah, ele sempre some nesses momentos. Peça-o para que na segunda, passe na empresa e pegar sua demissão.
A mulher paralisou.
— Senhor…
— Não, Donnah. — Ling Shan tampou os ouvidos do irmão mais novo e seu tom de voz tornou-se sério: — Pergunte a ele o que anda fazendo com meu cunhado. E Tio Kin… apenas aguarde até esses abutres acalmarem, não estamos com pressa…
♫
Glossário
– Berçário estelar: Um “berçário estelar” é uma forma romântica de se referir a uma nuvem molecular em processo de formação de novas estrelas. Uma nuvem molecular é uma região do espaço densa o suficiente com átomos de hidrogênio que as moléculas, mais comumente H2, ou hidrogênio diatômico, podem formar. As nuvens moleculares podem ser gigantes, com 1000 a 100.000 vezes a massa do Sol, ou menores, menos do que algumas centenas de vezes a massa do Sol. Elas são chamadas de nuvens moleculares gigantes e pequenas nuvens moleculares, respectivamente.
– Nebulosas são grandes nuvens encontradas no espaço interestelar formadas, majoritariamente, de poeira cósmica e gases, como hélio e hidrogênio. Algumas nebulosas surgem a partir da explosão de estrelas massivas e que se encontram no ciclo final de suas vidas. Essa explosão, conhecida como supernova, lança a matéria da estrela para todas as direções, dando origem a uma ou mais nebulosas, que podem apresentar diferentes formatos e extensões, podendo medir desde o tamanho do Sol até algumas centenas de anos-luz.