13. A estrela do azar me persegue
Zhuo Fan esperava na porta do carro pelo irmão mais velho. Ele jogava candy crush para passar o tempo.
Toda sua pessoa era muito atraente na multidão e assim como o mais velho, fazia alguns trabalhos como modelo e chegou a posar uma vez na capa da playboy masculina.
Ele era mestiço, filho de uma londrina poderosa no segundo casamento de seu pai. Seus cabelos eram lisos e num castanho aproximando-se do louro, de olhos cor de mel debaixo dos óculos escuros redondos e sorriso — quando existe — brilhante.
Era pouco mais baixo que o irmão e seu corpo musculoso era escondido por debaixo de um terno italiano bege da última coleção e sapatos luxuosos.
Não era incomum encontrar paparazzis e outros transeuntes tirando fotos secretamente. Felizmente, para ele, a aura ao seu redor era tão gélida que impossibilitava outros se aproximar.
— Queria um pirulito agora! — Resmungou quando notou que perderia o jogo devido a uma jogada.
Guardou o celular com raiva e cruzou os braços refletindo sobre as ações do seu irmão mais velho nos últimos dias. Zhuo Fan sabia que o irmão não investiria em nada que lhe causasse prejuízo. Ele calculava muito bem seus passos e analisava todas as situações possíveis. Ao longo dos anos, aprendeu um pouco como o mais velho pensava, mas… caralho!
O que raios ele estava fazendo entrando na fortaleza inimiga desarmado? Que tipo de estratégia anormal era?
— Tsk, maluco!
Ao longe, ele viu o irmão caminhar animadamente. E havia um sorrisinho maldito estacionado no seu rosto. Ele havia aprontado. Às vezes, Zhuo Fan se questionava o quão quebrado poderia ser o irmão. Conseguia trocar sua aura de libertino para um homem asceta num instante. Um pouco admirável diria, mas muito irritante.
— Esse seu sorriso me irrita.
— Obrigado. — O mais velho agradeceu, o aumentando ainda mais.
— Estou curioso. O que Chefe Zhuo aprontou? — Estreitou os olhos percebendo algo incomum. — Por que alguém que possui um forte senso de organização, estaria com o paletó amassado?
— Está? — Ele olhou para baixo, notando o estado de sua roupa. — Realmente… — Passou a mão até desamassar e deixar o tecido liso.
Zhuo Fan, que presenciava essa cena quase teve mais certeza do que estava acontecendo.
— Quem estava intimidando? — Perguntou.
— Adivinhe. — O sorriso ladino e presunçoso aumentou.
O mais novo precisou de pouco tempo para adivinhar e fez uma expressão desgostosa.
— Você é ridículo irmão!
— Onde está sua piedade fraternal? — Zhuo Yang estava visivelmente ofendido.
— Minha piedade fraternal está na p…
— Irmãozinho, estamos em público. Não se esqueça.
Zhuo Fan olhou ao redor. Muitas pessoas os olhavam. Um homem bonito chama atenção, dois homens bonitos chamam muito mais atenção. E dois homens bonitos brigando chamam ainda mais atenção. Ele resmungou antes de entrar no carro e dar partida.
— Agora entendo o porquê queria vir trazer Xiao Xia. — Revirou os olhos. — Ela vai ficar bem?
— Por que um fã não ficaria bem perto de seu ídolo? — Questionou, como se fosse algo simples. — Ela não é uma obcecada por ele, né?
— Às vezes, esqueço que vocês dois são muito parecidos. Espero que dê tudo certo.
Ainda no prédio da LS, a pequena garota fofa tinha seus olhos brilhando ao ver seu ídolo. E para a boca de corvo Zhuo Fan, a situação estava desenrolando em algo não muito amigável.
— Ge é igualzinho como gege havia falado! — Ela sorriu ao fazer uma reverência.
— Gege?
— Xiao Yang, Yang Yang, Yang Ge, Zhuo Yang, Chefe Zhuo, líder Zhuo… — Ela falou as várias maneiras que poderiam conhecer seu irmão mais velho.
— Yang Ge não dis…
— Posso abraçá-lo? — Ela perguntou.
Todos ficaram tensos, até mesmo Cheng Yin. Ele sabia que Ling Shan não gostava de receber fãs. Gratidão diferia de contato, era o que ele dizia.
Infelizmente, a verdade, era um pouco mais obscura. O cantor não gostava de ser tocado devido uma das sessões de punição do próprio Cheng Yin. Mas, o atual Ling Shan pensava diferente, mesmo um pouco desconfortável, ele aceitou o convite para um abraço. Ela o apertou tão forte em seu abraço que achou possível sufocar.
A atmosfera tensa se desfez e foi possível até escutar um suspiro aliviado.
— Ge tem o mesmo cheiro de gege…
O cantor congelou em sua posição e sentiu um forte vento gélido vir do norte. Ele virou o rosto, lembrando-se dos tempos anteriores, não querendo olhar para Zhuo Xia. As pontas de suas orelhas estavam coradas.
— Xiao Xia… — O rapaz pequeno no canto se pronunciou. Era o agente dela, não parecia muito competente. — Comporte-se.
Zhuo Xia deu um passo para trás, envergonhada. Ela juntou as mãos em frente ao corpo e se balançou.
— Desculpe ge, estou um pouco nervosa.
Ling Shan sorriu.
— Então vamos falar de trabalho. — Ele desconversou, a fim de não tocar mais naquele assunto.
Como já falado por esta autora, estavam trabalhando em Supernova e havia referências de astronomia por todas as linhas da música.
Era um interesse secreto do falecido Ling Shan. Mas o atual Ling Shan preferia esquecer que havia estudado astronomia.
“Nós somos feitos de poeira de estrelas
Então deixemos voar para longe
Vamos buscar o sentido de nossas vidas, sem dor, sem arranhões, sem amor”
Zhuo Xia murmurou os versos passando o dedo pelo papel.
— Ge, esses versos são bastante pesados. Traz um sentimento profundo… Onde conseguiu inspiração para essa música?
Ling Shan por um segundo ficou atordoado, mas não se tornou perceptível, então ele mentiu:
— Ouvi relatos. Histórias na internet e… alguns conhecidos. — De relance, o olhar se estendeu até o homem louro e retornou para Zhuo Xia. — Além disso… tenho um pouco de interesse em astronomia e cosmologia.
Zhuo Xia tinha os olhos brilhando.
— Isso não estava na sua fanbase!
O cantor não pôde deixar de rir. Ela era mesmo uma pequena fã adorável.
— Vamos deixar isso como um segredinho entre nós. — Ele afagou a cabeça dela.
— Ge é como um grande irmão mais velho. — Inclinou a cabeça amenamente para o lado ao encarar seu ídolo. — Não é como dizem ser! Aya! Estou tão feliz!
Essa jovem cantora de dezesseis anos, o lembrava de Ling Ai, o seu Ling Ai: uma criança gentil e educada. Foi realmente uma pena que aquela bolinha fofa tenha morrido cedo e abalado tanto ele quando sua mãe, numa proporção gigantesca.
— Xiao Xia provavelmente seria uma boa amiga de meu irmão mais novo.
Sua expressão ficou mais suave ao falar de Ling Ai e quase assustou com esse sentimento. Isso não parecia ser ele e recuou.
— Vamos começar. — Lao Li, que discutia um assunto com Cheng Yin no canto da sala, interrompeu ambos.
A gravação ocorreu até as quatro da tarde, devido a alguns problemas e ajustes improváveis que precisaram ser feitos. Todos estavam exaustos e no clima de final de tarde, decidiram se reunir num pub estilo inglês para relaxar.
‘ O happy hour quase se tornou um tabloide de fofoca de agressão. A perseguição de paparazzis era considerada surreal para Ling Shan, e ele, como alguém que raramente explodia, foi atiçado até soltar alguns palavrões.
E as abelhas começaram a atiçar.
— Ling Shan, seu comportamento agressivo é por causa do abuso de drogas?
— É verdade que você já teve mais de uma overdose?
— Poderia nos explicar o que fazia no Distrito Vermelho?’
Ling Shan parou no meio de sua caminhada e virou-se para aquele aglomerado de pessoas. E antes que alguém o pudesse parar, suas palavras afiadas já haviam sido apontadas para eles.
— Eu realmente acho que a estupidez não faz parte de um grupo de jornalistas, mesmo sendo paparazzis e stalkers fodidos. O que você acha que alguém iria fazer num prostíbulo? Recitar Hamlet? Pregar a palavra de um deus? — Ele revirou os olhos. — Além disso, todo o caso já foi esclarecido pela minha equipe de relações públicas. Vocês desejam que laozi mostre uma endoscopia ou algo do tipo? Porra, eu posso jantar em paz?
Dito isso, Cheng Yin o arrastou para dentro seguidos por Zhuo Xia, que olhava seu ídolo admirada.
— Zhuo Xia, não acha que deveria se afastar de alguém com esse tipo de comportamento? — Uma das abelhas perguntou.
A garota de dezoito anos abriu um largo sorriso para as câmeras, mas seus olhos esverdeados não pareciam alegres. Ao contrário de Ling Shan, ela não parou e simplesmente ignorou o zumbido.
A caçula dos Zhuo não iria defender seu ídolo, mas também nunca o atacar. Ela não era estúpida para entender a situação, afinal têm muitas amigas que fazem o mesmo para suportar a pressão de ser uma pessoa pública. Um meio mais fácil, mas aquele que lhe leva para o abismo.
Ela se considerava sortuda nesse quesito, já que seus irmãos mais velhos, aliviavam quase toda essa pressão para que pudesse viver despreocupadamente.
E para sua infelicidade, encontrou uma cena especialmente ruim ao entrar no restaurante. Seu ídolo tentava se soltar da mão agarrada em seu braço, parecendo um forte aperto.
Zhuo Xia já havia escutado algumas fofocas a respeito dos dois, principalmente aquela que ambos não mantinham um simples relacionamento entre empresário e cantor, nem cunhados.
A princípio, ela não acreditava nisso. Mas, ao notar a interação entre os dois, essa crença desabou.
“Supernova poderia…”
— Xiao Xia não vai entrar? — Ling Shan havia conseguido se afastar de Cheng Yin e aberto um sorriso.
“Como ele pode sorrir assim?”
— Xiao Xia, por que está chorando? — Aproximou-se preocupado. — Aconteceu algo? Os repórteres disseram algo ruim? Você sabe como tenho uma língua afiada, eu posso…
Ling Shan não sabia se deveria abraçá-la, então somente passou a mão no ombro com cuidado.
— “Quebre essa crença de que amor é tudo. Ele é apenas um ingrediente e nós nunca o tivemos.” — Recitou as palavras da música. — Yang gege me ensinou a observar as pessoas, então eu entendo…
O mais velho captou o que a garota quis dizer antes do chamado de Cheng Yin para a mesa e disse:
— Não se preocupe.
Depois disso, ele puxou a mais nova para um fim de tarde animado, mas Zhuo Xia ainda continuou pensativa todo esse tempo.
— Shan Ge, bye bye! — Ela se despediu várias vezes antes de entrar no táxi.
Assim que não estava mais à vista, ele pôde suspirar. Zhuo Xia era muito enérgica e perceptiva.
— O que aquela Zhuo Xia quis dizer com: “Ge tem o mesmo cheiro que gege”? — Cheng Yin perguntou ao entrar no carro.
— Talvez usemos o mesmo perfume?
Cheng Yin se aproximou, cheirando o pescoço de Ling Shan.
— Esse não é seu perfume. — Sua expressão enegreceu.
Ling Shan colocou o cinto de segurança.
— O que raios estava fazendo naquele corredor? — Continuou o interrogatório.
— Provavelmente não o mesmo que tentou fazer!
— Ainda emburrado com isso?
— Emburrado? — Sua voz mudou ligeiramente para severidade. — Não gostaria de discutir aqui, porque é um local inadequado para eu insultá-lo até perder minha voz. O que fez foi crime, não têm consciência disso não?
Ele riu.
— Quer falar sobre crime? — Ele riu. — Podemos começar os seus primeiros, certo?
— Tudo o que eu fiz prejudicou só a mim. — Replicou. — E você?
— Sua estupidez é louvável, Ling Shan.
— Sua hipocrisia me comove, Cheng Yin. — Ling Shan virou o rosto para a janela.
Hoje se sentia melhor ao lado de Cheng Yin. Não estava mais tremendo nem sentindo espasmos ou vontade de correr dele. Só sentia um pouco enjoado.
— Irei sair essa noite.
O carro estacionou no sinal.
— A situação está muito agitada, deveria ficar quieto por algum tempo.
— Não importa, vou levar dois seguranças comigo. — Bocejou. — Somos feitos de poeira de estrelas, então deixemos nos levar pelo vento. Preciso sair um pouco.
O motorista dobrou a esquina entrando num túnel em direção ao centro da cidade.
— Vou junto então.
— Não. Você vai cuidar da sua mulher e seu filho. — Ling Shan refutou.
Ele não aguentava mais receber mensagens de Ling Meili e ligações — todas rejeitadas. Desbloqueou o celular e virou a tela para Chen Yin.
— Sua mulher precisa do marido. — Falou pausadamente. — Faça ela parar de me ligar.
O rosto do empresário ficou escuro.
— Essa vadia! — Cheng Yin praguejou.
— Não fale assim, Cheng Yin! Ela ainda é sua esposa! — Arqueou a sobrancelha, com um sorriso divertido.
A tela de seu celular ligou. Ling Shan sorriu quando viu a notificação no aplicativo de mensagens. O chefe Zhuo era muito atencioso com seus flertes. Ele abriu a conversa e baixou o arquivo de imagem.
O cantor ficou em silêncio por dez segundos antes de soltar um palavrão e afrouxou a gola da camisa.
— O que foi?
— Abri um site de conteúdo adulto e o primeiro vídeo é de uma mulher sendo fodida por um cavalo… — Olhou pelo retrovisor. — Tem um carro nos seguindo.
— Paparazzis? — Donnah, que estava praticamente camuflada durante todo o jantar até o momento, decidiu se pronunciar.
— Possivelmente… precisamos avisar o hotel…
Cheng Yin e Donnah olharam para ele ao mesmo tempo, com uma expressão desconfiada. Geralmente, ele não tomava a frente.
Ele continuou a encarar a tela do celular.
∟Seria estranho eu ficar duro no meio de uma perseguição com paparazzis? [20:29]
Não demorou para haver uma resposta.
∟Estranho seria se não ficasse. [20:30]
∟Você é muito convencido Sr. Zhuo, mas eu gosto. [20:31]
∟Seria apressado lhe convidar a vir à minha casa? [20:32]
∟Desde que não me apresente para seus pais. [20:32]
O cantor puxou um cigarro do bolso e acendeu. O dedo deslizou até o painel do carro para abaixar o vidro.
— É melhor fingirmos não os ver. Não podemos arriscar a acontecer um acidente como da última vez. — Donnah relembrou.
Ling Shan franziu a testa.
— Como foi na Coreia? — Donnah murmurou positivamente. — Sishengs… sassaengs… são todos uns merdas.
Mais uma vez uma mensagem caiu e a tela do celular acendeu.
∟Vou lhe apresentar meu filho. O que acha? [20:36]
∟Seu filho… é bonito? [20:36]
∟Ele cresce bem. [20:36]
∟Seria ótimo conhecer seu filho. [20:37]
O cantor olhou para além da janela, as luzes da cidade. De repente, sentia-se desanimado e desmotivado, sem motivo aparente. O braço que usava para segurar o cigarro formigava.
Ele inspirou profundamente, sentindo o tabaco preencher seus pulmões de células cancerígenas. Era uma sensação, embora prejudicial, notoriamente agradável.
“Quero descansar…”
♫
Ling Shan esperou que seu empresário fodido desaparecesse na esquina para poder relaxar.
Ele havia recebido um convite e certamente, seria desrespeitoso não o aceitar. Ele esperou pelo seu vizinho temporário em frente a sua porta.
Chefe Zhuo ainda não estava em casa, mas ele não queria se sentir sufocado dentro daquele quarto de hotel e saiu para o corredor. Devido aos últimos acontecimentos, quatro homens de terno, como aqueles em Homens de Preto, faziam o papel de estátua quando seu chefe estava por perto.
Sentado no corredor, com os fones no ouvido, escutando aquela música que fala de uma supermodelo dos anos noventa, ele passava por artigos de astrofísicos famosos. Um costume que adquiriu para se acalmar.
Um toque no ombro com sutileza o fez olhar para cima.
— O que está fazendo aqui fora como um cachorrinho esperando seu dono?
Ling Shan piscou algumas vezes, meio letárgico. Agora, Zhuo Yang estava com os óculos de aro fino, dando-lhe um ar acadêmico.
— Não é nada.
— Venha. — Ele estendeu a mão para o cantor, que a segurou com cuidado. — O que está escutando?
— Supermodel.
Zhuo Yang pegou um lado dos fones.
Ling Shan entrou na toca da raposa, assumindo o papel de coelho a ser devorado. Felizmente, a raposa não estava tão faminta e deixou a carne de coelho marinar.
A raposa tinha consciência. Um coelho com gosto amargo só a deixaria com a mente culpada e também não era bom para o paladar. Ela esperava que a presa pudesse vir de bom grado.
Era um apartamento grande, grande demais para uma pessoa sozinha. Foi a primeira impressão ao pisar ali.
— Não se sente solitário aqui? O apartamento é realmente grande.
Nem parecia que estavam no mesmo hotel. Ao contrário de todos os quartos ali, era o único apartamento em todo o lugar.
Dois andares, varanda, cozinha conjugada, sala de jantar e o segundo andar, provavelmente com os dormitórios. A decoração era minimalista, sem muita vida. Era como se Zhuo Yang simplesmente não usasse a casa e apenas passasse pouco tempo ali.
— Fico mais tempo no escritório. — Ele trancou a porta com a digital e trocou o calçado para entrar. — Venho pouco aqui.
— Como eu pensei… — Resmungou.
— Além disso. — Ele afrouxou a gravata e a retirou, pendurando-a e em seguida o blazer. — Não tenho muito a fazer aqui.
Ling Shan entendia esse pensamento. No passado, ele tinha seu próprio apartamento, mas sentia-se vazio ao entrar nele, não havia muito o que se vangloriar em ter sua própria casa.
Com o passar dos anos, ele a usava somente para dormir e, na maior parte do tempo, passava fora e vez ou outra visitava sua mãe.
— Uma casa não deveria ser o refúgio?
— Então por que você fica num hotel se não, em sua casa?
Ling Shan parou de bisbilhotar a sala e virou-se para trás.
— Memórias ruins. — Falou com sinceridade.
A mansão no subúrbio trazia-lhe lembranças dolorosas. Após sua festa de aniversário, aquele lugar seria vendido.
— Cheng Yin? — Perguntou ao se aproximar.
— Nada que valha a pena ser comentado por enquanto.
Zhuo Yang parou bem em frente ao mais novo e passou uma mecha de seu cabelo para trás.
— Você é muito bonito. — Zhuo Yang comentou inesperadamente. — Quer dizer, agora você deixou seu rosto aparecer… Aliás, por que se vestia como um palhaço? — Tocou o nariz do outro.
— Está tentando me elogiar ou me insultar?
— Os dois. — A resposta veio rápida.
— Idiota! — Ling Shan riu, sendo acompanhado por um sorriso de Zhuo Yang.
A brincadeira quase o fez esquecer o quão enjoado se sentia. Não estava se sentindo bem desde que saiu do restaurante.
— Quer tomar alguma coisa? — O empresário desabotoou dois botões da camisa e os punhos, puxando a manga até chegar aos cotovelos. — Algo específico?
Ling Shan pensou um pouco e deu um sorriso travesso.
— Um rosé italiano, safra de mil novecentos e trinta.
Zhuo Yang estreitou os olhos, pensando.
— Não tenho o italiano, mas o inglês de mil novecentos e vinte. É um vinho com um sabor especial.
— Você realmente tem? — O cantor parecia surpreso. — Eu só estava brincando, mas Yang Ge realmente tem?
— O dinheiro compra muitas falácias felizes. — Cantarolou em direção à cozinha. — Você conhece muitas dessas falácias. — Seu tom carregado pela ambiguidade.
Ling Shan olhou para as costas do outro. Dizia os antigos que costas largas era um sinal dos céus para uma pessoa que poderia ser um bom protetor.
…besteira! Ele só quer meu corpo!
— Onde é o banheiro?
— Final do corredor. — Ele apontou em uma direção. — Segunda porta à direita.
Ling Shan soltou o celular sobre o balcão da cozinha e atravessou a sala indo em direção ao corredor.
Nas paredes, vários certificados e premiações se dispunham ordenados. Deve-se dizer que, apesar de novo, Zhuo Yang é um dos empresários mais influentes seja no ramo do entretenimento, sendo um concorrente direto da família Ling e também, especificamente de Cheng Yin.
Ling Shan já adivinhou que eles tinham um passado ruim. Ninguém tomaria ‘vingança’ aleatoriamente e seja por um motivo mesquinho ou fundamentado, agarrar a coxa de alguém assim não lhe traria malefícios. Ele só esperava que Yang Ge não se revelasse um segundo A-Cheng. Era isso ou correr para debaixo das asas do suposto pai.
Uma foto lhe chamou atenção. Um grupo de amigos com uniforme escolar, no ensino médio. Poderia reconhecer Yang Ge e mais algumas celebridades atuais, mas bem ao lado de Zhuo Yang, uma cabeça loura cuja personalidade é horrível se dispunha.
...realmente, um passado.
Olhou para trás, através da cozinha antes de entrar no banheiro.
“Uma visão muito boa…”
Ele fechou a porta apressadamente. Suas mãos estavam suadas e ele havia relaxado.
“Por que raios eu aceitei vir?”
“Eu estou na casa de um homem que nunca conheci!”
“Loucura! Loucura! Loucura Ling Shan!”
Abriu a torneira e lavou o rosto. Ele se olhou através do espelho e deu dois tapas em suas bochechas, uma em cada lado.
— Pare de tremer! — Sussurrou para si mesmo. — Ele não vai te fazer mal… — Respirou fundo várias vezes.
Mais uma vez, jogou água no rosto.
— Ele não vai te fazer mal…
De repente, sentiu vontade de vomitar e se inclinou contra o vaso sanitário. Tudo que havia comido, foi despejado.
Ele demorou a perceber que há muito tempo a porta estava aberta e que também permaneceu tempo o suficiente para preocupar alguém.
— Não parece bem. — Zhuo Yang comentou casualmente.
— Ah, você acha? — Ele revirou os olhos, tão sarcástico quanto possível.
Em seguida, sua cabeça estava contra o vaso.
— Devia falar quando se sente mal. — O mais velho encostou a cabeça no batente da porta e bocejou. — E certamente, é um primeiro encontro memorável. Jamais vou esquecer do homem que lançou todo o jantar para fora no meu banheiro depois de flertar comigo.
Nesse ponto Ling Shan já não o escutava. Estava concentrado demais no que fazia e na dor aguda em sua barriga.
Meia hora depois, o cantor estava deitado no sofá com a cabeça sobre as coxas de Zhuo Yang.
— Realmente é uma pena não ser acompanhado no vinho. — Olhou para Ling Shan.
— Desculpe-me, por isso. Você é uma companhia agradável. — Ling Shan o encarou de volta. Zhuo Yang ainda usava aqueles óculos que lhe davam um ar totalmente asceta, mas ele era puramente um libertino.
Ling Shan fez seu trabalho de pesquisa.
Zhuo Yang era uma celebridade tão famosa quanto ele. Um homem que aos trinta e cinco criou um império internacional era muito conhecido. Além disso, trabalhando como modelo de marcas famosas masculinas tendo alguns endossos globais. Com um rosto desses também…
Mas também, um homem reconhecido por seus inúmeros affairs e não se limitando a apenas mulheres. Provavelmente, pelo que foi encontrado em suas pesquisas, com apenas um relacionamento sério, ocorrido há muitos anos com uma colega de faculdade.
Basicamente, considerado um cafajeste pela mídia.
Esse cafajeste riu do comentário de Ling Shan.
— É a primeira pessoa que me coloca como agradável.
— Seu rosto ajuda muito. — Ele bocejou e ajeitou o corpo para uma postura mais confortável.
— Sou bonito? — Ele arqueou a sobrancelha, curioso.
— Se há espelhos neste lugar, provavelmente sabe a verdade, Yang Ge… — Ele falou baixinho, sonolento. Seus olhos pesavam muito. — Uma raposa escondida dentro da pele de um coelho…
Assim, ele dormiu.
— Eu disse memorável? — Resmungou baixinho. — Será inesquecível esse tempo com você… — E riu sozinho.
Ele finalizou o vinho e também sua noite. Eram ainda dez horas, mas Zhuo Yang sentia-se satisfeito e decidiu se recolher.
O alarme que toca pela manhã, pode ser menos irritante que uma ligação.
O barulho alto e familiar, acordou uma pessoa cujo humor é bastante instável pela manhã. Ele tateou por todo lugar até encontrar o dispositivo.
Ainda com os olhos fechados, atendeu a ligação.
— Aqui é Ling Shan. Quem fala? — Sua voz saiu rouca e levemente irritadiça.
— Chefe, desculpe incomodá-lo assim pela manhã. — A mulher ao telefone era Donnah, sua assistente. — Onde está?
— No hotel, aconteceu algo urgente? — Ele já abriu os olhos e se mexeu na cama, mas de repente parou.
Um par de braços abraçava sua cintura e o dono desse par de braços estava acordando. Uma bela visão matinal.
— Não saia do hotel, em hipótese alguma. Há muitos repórteres e paparazzis na porta. Uma confusão generalizada. — Donnah parecia desesperada. — Embora eu não possa lhe impedir de olhar, não faça quaisquer movimentos nas redes sociais.
— Redes sociais, repórteres? O que os céus estão preparando para este humilde Ling Shan desta vez?
Ao escutar a breve conversa, o grande preguiçoso ao lado, despertou completamente e foi buscar informações. Havia várias chamadas não atendidas de seu irmão mais novo, mas ele as ignorou pulando direto para o Weibo.
Zhuo Yang franziu a testa quando viu os tópicos quentes e praguejou internamente. A pessoa ao seu lado, ainda no telefone se aproximou, apoiando a cabeça em seu ombro.
— Porra! — Ling Shan xingou ao ver a notícia. — Donnah…. Tome cuidado. — Ele desligou a ligação. — Vou voltar para o meu quarto.
— Isso será problemático.
— Problemático? Minha vida é cheia de problemas! — Ling Shan respondeu.
Zhuo Yang se aproximou, abraçando-o.
— Falando nisso, como tem se sentido esses dias? Não parece que têm ingerido alguma coisa. — Ele sentiu o cantor se aninhar em seu peito. — Não é tão ruim. O doutor prescreveu alguns remédios fortes, tenho sentido muita sede também. Mas não é tão ruim. Estar longe daquele cara está me fazendo bem…
Ling Shan não queria se tornar um drogado, louco e abstinente. Iria fazer o impossível para ficar limpo.
— Não se preocupe, o hotel é seguro. A imprensa não vai ser capaz de entrar.
— Estive pensando sobre isso.
— E o que seria isso? — Zhuo Yang levantou a mão e massageou a bochecha do outro, sobre as marcas do cobertor feitas em sua pele.
— Vou assumir sobre eu ser gay. Não adianta mais esconder sobre isso quando tudo está estampado nas capas de revista. Já estava pensando sobre isso há algum tempo. — Ling Shan tremeu. — E depois, minha relação com Cheng Yin não foi descoberta, ainda. Estou disposto a me tornar um coelho em sua frente, quero pegá-lo desprevenido.
Era algo que o original queria também. Tiraria um peso de seu peito. E assim como vários reflexos deixados, o corpo se lembrava de cada sensação e dor que sentiu nos últimos anos.
— Ontem estava passando mal no meu banheiro. — Sugeriu. — Tem certeza disso?
— Óbvio que não. Só quero acabar com isso logo. — Falou firme. — Só quero viver.
— Dar fim a essa situação o mais breve possível… temos algo em comum. — Zhuo Yang concordou.
— Isso parece bom. Podemos marcar uma reunião para discutirmos os termos do contrato.
— Que formal… — Ling Shan respondeu manhoso, ao vê-lo se aproximar.
— Gosto dos meus acordos formalizados e sem brechas. — Respondeu ficando em cima de Ling Shan e deu-lhe um beijo no pescoço, arrepiando-o por completo. — Eu lhe daria um beijo de bom dia, mas Shan-shidi ainda não escovou os dentes.
Ling Shan gostaria de xingá-lo, mas ele tinha razão. O que ele pôde fazer era rir.
— Você é assim sempre? Com seus parceiros…
Eles estavam tão próximos que poderiam sentir a respiração um do outro.
— Pessoas diferentes, métodos diferentes.
O olhar daquele por baixo, não se desviou dos lábios em sua frente, estava tão concentrado ali, que não percebeu seu próprio movimento: mordendo os lábios.
Zhuo Yang estreitou os olhos, traçando um grau de perigo desconhecido para o cantor.
O empresário não pôde deixar de fazer uma nota mental: Ling Shan, a pessoa que ele julgou por muito tempo, mexia muito com ele.
Mas, esse Ling Shan que passou a observar nos últimos dias era muito diferente daquele antes disso. E ele não apostaria tão alto nesse antigo conhecido.
Na verdade, ele poderia dizer que acompanhou a carreira desse garoto. Não podia negar que em algum momento, o achou interessante. Infelizmente, interessante não poderia ser colocado na mesma plataforma que confiável.
E nesse jogo para derrubar Cheng Yin, Ling Shan era uma peça especial, assim como o rei no xadrez.
— Vamos nos levantar. Temos uma montanha de fãs e mídia para acalmar, baby. — O empresário deu tapinhas gentis nos quadris do cantor.
Ling Shan franziu a testa.
— Oh, é mesmo cafajeste!
— Como assim? — Ele estava genuinamente confuso.
— Baby é golpe baixo…
***
extras
Cheng Yin: Baby… eu te amo.
Ling Shan: Sai, cão!
Yang Ge: Baby…
Ling Shan: Hmm… (quase ronronando)
— glossário —
Sisheng: mesmo que sassaeng, porém é o termo adequado na china.