14. O que existia entre nós acabou
A vida era uma desgraçada bem hipócrita. Foi uma conclusão bem específica após, Ling Shan, sair da residência de Zhuo Yang. O porquê disso?
Primeiro: o de sobrenome Zhuo, não estava vestido da cintura para cima. Bem, Ling Shan simplesmente se sentiu um pouco animado que não era apenas ele que tinha tatuagens. Aquele dragão nas costas… especialmente sexy. Cof. Voltemos a programação.
Segundo: ele próprio se vestia com uma camisa que não pertencia a ele. Uma cena como essa, uma possibilidade muito óbvia surge à mente.
Terceiro: adivinhe quem foi a primeira pessoa ao encontrar com ambos? Uma pessoa loura que, se fosse numa novel de artes marciais, a intenção assassina dela, provavelmente, teria sido materializada.
Atrás de Ling Shan, Zhuo Yang encostou a cabeça no portal da porta, uma das mãos no bolso e a outra na cintura de Ling Shan. No seu rosto, um sorriso ladino e irritante, como se ele tivesse corrido os cem metros na olimpíada e vencido com vantagem contra seu arquirrival.
Cheng Yin queria matá-lo em vinte das dez tentativas ensaiadas em sua mente.
— Porra! — a pessoa entre os dois ficou sem ação.
O cantor segurou com mais força as roupas em sua mão.
— Entrem com ele. — Chefe Zhuo sinalizou para os seguranças.
— Quem é voc…
— Sim, entrem comigo. — O cantor concordou.
Sentindo sua cintura sendo abraçada, a mão percorrendo até seu queixo, levantando-o e obrigando-lhe a encarar aqueles olhos verdes. Ling Shan foi pego de surpresa quando um beijo foi depositado em sua testa.
— Cuide-se.
— O-Okay…
Tonto, ele só entrou no quarto de hotel depois que os quatro seguranças e Cheng Yin entraram. Respirou fundo e adentrou aquele território desconhecido. Sentia que a qualquer momento o ar poderia lhe faltar.
Com a porta já fechada, algo voou em sua direção, se partindo na parede, bem ao seu lado.
— Cheng Yin, você está louco? — perguntou indignado.
— Vá a merda, Ling Shan! — O louro estava visivelmente transtornado e deu um passo na direção.
— Não se aproxime! — Falou num tom mais alto.
Ele sinalizou para os seguranças ali dentro.
— Eu juro para você! Se tentar encostar a mão em mim, você vai para a delegacia!
— Delegacia? — riu, frívolo. — Você realmente não tem ideia do que eu posso fazer e até onde posso chegar!
Foram poucas palavras, mas o cantor queria rir. Ele estava disposto a baixar sua voz para tentar pegar esse homem quando menos esperasse, mas toda essa situação… porra! Ele teria que ir por uma rota alternativa. Queria que esse desgraçado explodisse!
— Saia daqui Cheng Yin! — aumentou o tom de voz, tanto quanto sua seriedade — Saia enquanto estou sendo amigável. — ele respirou fundo, com dificuldade e tentou se acalmar. — Já temos problemas demais para você ligar com quem vou ou não para cama. Você disse que eu poderia foder com quem eu quisesse, que nunca quis nada comigo além de sexo…
Ling Shan pausou por um momento e se sentou no sofá. Seus membros estavam trêmulos, o coração acelerado e a respiração começando a desregular.
— Então cá estamos nós Cheng Yin. Como dois vermes que se detestam, mas não conseguem se afastar. — já era o momento para deixar essa situação clara. — Já morri uma vez, não quero sentir isso novamente… — colocou a mão sobre o peito.
Um dos seguranças pôs-se a aproximar. A tez pálida mostrava que o chefe não estava bem.
— Estou bem senhor Jun. Essa obsessão e perseguição terá um final doloroso, para nós dois. — o cantor continuou. — Eu queria que soubesse Ah-Cheng. Você era tudo pra mim, e esse foi meu maior problema.
Era assim que o finado Ling Shan se sentia. Ele amou e amava muito essa pessoa cujo não merecia esse amor. Doía para ele todas as vezes que o via com outra pessoa, sorrindo como sorria para ele. Doeu tanto que sua vida se esvaiu aos poucos.
Cheng Yin cerrou os olhos. Ele parecia pensativo sobre algo.
— O que está querendo dizer?
Tirando o cabelo do rosto, levantou sua linha de visão. A amargura e tristeza em seu rosto não surpreenderam Cheng Yin. Seu olhar estava nublado, uma tempestade próxima a desabar, mas, dessa vez, algo parecia diferente e ele não conseguia decifrar esse Ling Shan.
— Não é difícil entender. — olhou diretamente para o louro.
Repentinamente, a porta se abriu. Era Ling Ai.
— Ge… — ele entrou com uma expressão preocupada.
O adolescente deixou a mochila escolar no chão e tirou os sapatos, caminhando diretamente para o irmão e lhe deu um abraço. O garoto o abraçou tão forte que Ling Shan se perguntou de onde a fragilidade e fofura do irmão haviam ido.
— O que houve? — Ling Shan desviou o olhar para o empresário.
— Pegue uma água para ele. — Cheng Yin pediu a um dos seguranças, no canto do quarto havia um frigobar.
— Não deveria estar se preparando para a escola? — o cantor perguntou com calma.
— Eu só queria dar um abraço no irmão mais velho antes de ir para a escola.
— Obrigado. — esfregou o cabelo dele. — Não importa o que disserem hoje, saiba que apesar de tudo, amo muito você.
— Eu sei gege. Eu também amo o irmão mais velho.
“Ah, merda…”
Ling Shan jogou a cabeça para trás tentando segurar o choro. Fazia quanto tempo que não recebia esse tipo de carinho fraternal? Dez anos? Mais?
— Vamos… — deu uns tapinhas nas costas do irmão — vai se atrasar pirralho. Tio Jun leve ele até a portaria.
— Irmão!
— Pela tarde estará resolvido, então irei passar em casa também. Vou te levar num lugar legal.
— Promete?
— Sim.
Assim que Ling Ai saiu do quarto, o cantor pegou o celular e, ao mesmo tempo, uma chamada de vídeo de sua irmã mais velha. Ele mostrou a tela para Cheng Yin e rejeitou a chamada.
— Cuide da sua esposa e do seu filho. O que existia entre nós, acabou. E se quiser continuar trabalhando comigo, mantenha o pau dentro das calças. Qualquer coisa que precisar falar comigo, passe pela Donnah, ela será minha agente agora. — e lembrou-se de outra coisa — Aquele seu amantezinho de merda também está demitido.
“Primeiro, vamos manter o cachorro na coleira.”
Com o celular desbloqueado, ele não pôde deixar de abrir suas redes sociais. As manchetes não eram as melhores e os xingamentos e palavras de ódio elevaram-se numa intensidade capaz de mexer com seu estado psicológico.
Havia todo tipo de foto. Desde um flerte comum até fotos mais íntimas, cada uma com um homem diferente, mas a maior parte era com Cheng Yin. Dessa vez, não havia como negar.
Ele respirou fundo. Havia se tornado um buraco negro e não uma supernova, quanto ele queria.
— Eu vou falar com a imprensa. — Ling Shan decidiu — Marque uma coletiva para daqui a três horas e chame o advogado.
— Não é adequado. — Cheng Yin protestou. — Você sabe disso.
— Eu fui exposto e não vou ficar calado. Peça a equipe de relações públicas para redigir um texto, caso sinta que eu não posso falar por mim.
— Não posso deixar você fazer isso.
— Não há como voltar atrás… — o cantor deu um riso, parecendo aliviado e abaixou a cabeça parcialmente — Gostaria que se lembrasse de algo também. Você pode ser meu empresário, mas o chefe aqui ainda sou eu. Se eu decido algo, enfrentarei as consequências.
♫
Ling Shan poderia escutar o burburinho no auditório de conferências. A líder do departamento de relações públicas havia acabado de sair após lhe dar instruções de comportamento e discurso, juntamente com seu advogado.
Ele estava sozinho dentro da sala de reuniões, olhando o papel, distraído. Seu celular vibrou, o visor no celular mostrava ser Chun Hai: o dossiê de Cheng Yin havia ficado pronto. Ao menos uma boa notícia.
Essa vida de artista conseguia ser ainda mais complicada do que esperava e nem tempo para almoçar, teve. Lembrou-se que deveria tomar os comprimidos, mas havia os esquecido no quarto do hotel. Ling Shan deixou seu corpo pender sobre a cadeira e fechou os olhos. Sentiu o suor surgir nas mãos.
“Eu não preciso de um filho estranho!”
“Você se tornou uma puta que fica dando o rabo para qualquer um?”
“Nunca mais quero te ver, Lin Shan.”
“Não podemos ser amigos, meu pai não gostaria que eu fosse amigo de um homo.”
“Tenho nojo de você!”
“Hahaha, por que não chuta ele mais algumas vezes? Quem sabe assim ele não se cura!”
“Não fique perto dele, e se for contagioso?”
“Lin Shan, desculpe… não podemos ficar juntos mais…”
“Eu te amo, mas não podemos continuar.”
Ling Shan pensou que deveria ter carma negativo de suas vidas passadas para que precisasse revisitar toda essa situação novamente. Por mais que falasse que não doía, que não ligava para esse tipo de comentário, quando ia dormir, esses pensamentos o visitavam como um fantasma obsessivo.
Era inevitável não pensar nisso, quando durante o dia, as pessoas apontavam o dedo e o julgavam.
Tomou um susto quando sentiu um peso nos ombros. Ele abriu os olhos.
— Foi você, não foi?
— Não, eu também estou surpreso. — Zhuo Yang respondeu — Houve uma brecha inesperada. Seria estupidez minha me colocar sob os holofotes dessa maneira. — Zhuo Yang explicou
O mais velho deslizou as mãos dos ombros de Ling Shan para o rosto, fazendo movimentos circulares com os polegares, tão cuidadoso quanto nunca ele foi.
O cantor fechou os olhos brevemente e os abriu de volta.
— Tem um cigarro?
— Não vou lhe dar um cigarro.
Zhuo Yang passou por ele, sentando na cadeira à frente. Ergueu o braço, levando-o novamente ao rosto do cantor e enxugou algumas lágrimas.
— Vai ficar tudo bem. — baixou o tom de voz.
— Não vai, nunca fica.
Foi assim até no dia em que morreu. Lin Shan estava conversando com um homem na rua, que pedia informações de localização, quando um de seus ex-colegas de faculdade passou e começou com as zombarias e incitando, insultando não apenas ele, mas também aquele homem desconhecido.
Todos foram parar na delegacia e dali, foi direto para a loja de guitarras. Em seguida, morreu.
— Vai sim… vem aqui.
O cantor hesitou por um momento, mas logo se levantou e foi até Zhuo Yang e sentou em seu colo, de frente a ele. Colocou a cabeça no ombro do mais velho e sentiu ser abraçado.
Esse tipo de abraço era diferente. Diferente por aquele dado por sua mãe. Diferente de seus amigos. Diferente daqueles de Chun Hai. Talvez fosse porque Zhuo Yang o tenha ajudado anteriormente, mas sentia-se mais… protegido. Um tipo de proteção diferente.
— Como conseguiu entrar aqui?
— Encontrei um policial do lado de fora, ele me deixou entrar assim que me viu. — o barítono ressoou pelos ouvidos de Ling Shan e o dono dele beijou seu pescoço.
— Chun gege? — o endereço saiu como costume, sem perceber.
— Você parece ter muitos irmãos mais velhos, estou começando a ficar com ciúmes. — ele brincou, com um sorriso no rosto.
— Desculpe.
— Está pedindo desculpas por quê?
— Não sei.
— Então não peça.
Ling Shan inclinou o corpo para trás.
— Já nos encontramos antes?
— Pessoalmente, próximos… não.
— Então, por que está sendo gentil comigo?
Zhuo Yang fez uma pausa, e sem perceber, apertou mais seu abraço.
— É tão estranho ser gentil?
— Na verdade…não… — É só que todos foram maus comigo…
Havia uma certa gentileza naquelas pupilas verdes.
— Já lhe falei sobre isso Ling Shan: a pessoa com menos culpa em tudo isso é você.
— Continue assim e você terá um Ling Shan pra chamar de seu. — brincou.
— Seria uma honra…
Ambos se encararam por algum tempo.
Enquanto Zhuo Yang encarava Ling Shan seus olhos estavam calmos, quase tão frios quanto ele fazia seu trabalho, mas ao mesmo tempo, pareciam queimar como as chamas que estralavam no inferno. Ele sentia que isso, definitivamente, não era normal.
Era como se ele fosse como uma panela de água quente, prestes a atingir seu ponto de ebulição e ferver. A saliência em sua garganta subiu e desceu algumas vezes. Suas mãos desceram para a cintura do cantor.
Ling Shan percebeu esse desejo. Provavelmente, Zhuo Yang havia mentido sobre o original e ele terem se encontrado no passado. Não era um tipo de paixão de algumas semanas, parecia uma longa espera de anos.
Os cílios de Ling Shan tremulavam, as mãos em suas costas pareciam tremer junto e, sua intuição dizia que…
Pego de surpresa, Zhuo Yang travou por um segundo antes de abrir a boca e receber um beijo de Ling Shan. Ele segurou com firmeza os quadris dele.
— Nós poderíamos…
A porta da sala se abriu.
— Irmão mais vel…
Ling Shan deu um pulo para trás, se levantando. Ele esbarrou na cadeira e cambaleando para trás. Percebendo isso, Zhuo Yang o pegou pelo braço, antes que ele caísse. Ling Ai também se aproximou.
— Irmãozinho! — ele se soltou de Zhuo Yang indo abraçar o irmão mais novo, mas antes de ser pego num abraço, foi segurado pelos ombros. — Quem fez isso com você? — e tirou o boné em sua cabeça.
Havia um olho roxo e alguns cortes em seu rosto e na sobrancelha.
— Não é nada, ge.
— Se vai mentir, minta direito pirralho. — segurando um pirulito na boca, como se fosse um cigarro a adorável Zhuo Xia mantinha uma atitude como se fizesse parte da tríade. — Eu o encontrei sendo intimidado por alguns colegas de turma e chutei todos. Fomos para a diretoria, a diretora me suspendeu por alguns dias e deu uma licença para ele. — no final, ela baixou o tom de voz — Xiao Ai estava tentando te defender…
Imediatamente, Zhuo Xia sentiu um olhar cortante cair sobre ela e olhou para o irmão mais velho. Enquanto estava em sociedade, decidiu ignorá-lo.
— Chefe, está na hora. — a líder de relações públicas retornou, chamando-o para o então fatídico momento.
Ling Shan olhou para a mulher de meia idade e sorriu. Ele beijou o topo da cabeça de seu irmão e deu uma última olhada para Zhuo Yang e passou pela adolescente. Ele tirou um elástico de cabelo e amarrou o cabelo num rabo de cavalo.
Seu coração batia tão forte quanto o zumbido das abelhas no auditório. Desta vez, ele precisava manter a calma, mesmo que comentários ainda mais absurdos surgissem. Ele não era Lin Shan, desconhecido, mas Ling Shan, a maior estrela da música desse mundo.
Quando seus pés cobriram a plataforma do pequeno palco que havia ali, um silêncio arrebatador tomou conta do lugar. Apenas o barulho das suas botas de salto alto fazendo barulho contra a madeira foram ouvidos.