21. Fui atacado por um curioso
Embora os corredores da mansão estivessem vazios, a claridade passava por debaixo das frestas das portas do quarto. Muitos quartos estavam ocupados com corpos em movimentos incessantes e mentes vazias ou até mesmo por pessoas que estavam sendo obrigadas a estar ali. O mundo do entretenimento nunca trouxe beleza para seus bastidores e a maldade e incerteza estavam rondando celebridades e subcelebridades que eram capazes de alcançar seus limites ou ultrapassá-los.
Xiao Ming era uma dessas pessoas capazes de até mesmo vender seu corpo para conseguir uma informação. Alguém que, visto por terceiros, seria considerado sujo e até um idiota completo. Mas, ele fazia isso pelo trabalho e, inesperadamente, não era algo pelo qual se sentia envergonhado. E, por mais que estivesse fazendo isso por ter sido parcialmente forçado por Zhuo Yang, não se sentia mal, pois também conseguia se aproveitar da situação.
No entanto, por enquanto, o que mais lhe chamava atenção, era o relacionamento pessoal de Zhuo Yang e Ling Shan. Ainda que estivessem praticamente no mesmo ramo de trabalho, eram duas pessoas em oposição. Veja bem, a família Zhuo sempre esteve afastada da família Ling, seja por negócios ou personalidades. O avô Zhuo criou os filhos para entrar em oposição com os Ling e o avô Ling tornou as coisas difíceis para seus descendentes.
Ling Zhan e Zhuo Yifei, na juventude, se tornaram rivais e, posteriormente, cada um seguiu seu próprio rumo. Infelizmente — ou felizmente, a morte prematura de Zhuo Fei, afastou ainda mais as duas famílias e quando o primogênito — Zhuo Yang — atingiu o cargo de presidente manteve-se discreto em relação aos negócios, levando atenção para sua carreira como modelo e celebridade.
O mais novo, Zhuo Fan, inesperadamente, o acompanhou nessa jornada. Os rumores diziam que, por não serem filhos da mesma mãe, estavam em discordância em vários pontos e o mais velho, estava suprimindo o caçula por muitos anos.
Mas o que viu durante os últimos acontecimentos, parecia uma realidade paralela. Os irmãos se relacionavam tão bem que mesmo sem conversarem um com o outro sobre a colaboração de Ling Shan com sua própria empresa se apoiavam. Além do quê, esse súbito relacionamento dos dois primogênitos das duas famílias rivais.
“Isso não poderia acabar como Romeu e Julieta, certo?”
Sentia-se bastante curioso como esses dois firmaram um relacionamento. Em público, trocaram poucas palavras e, devido à obsessão de Ling Shan com seu ex-cunhado, não havia possibilidade de se encontrarem no privado. Sim, ele realmente sabia sobre isso, mas nunca conseguiu uma forma de expor corretamente devido a nunca encontrar algo concreto sobre esse relacionamento.
Cheng Yin era capaz de apagar todos os rastros, como aquele paparazzi que desapareceu após a exposição de uma foto íntima de ambos ou, ainda mais perturbador, a morte de um homem que havia tido um caso de uma noite com Ling Shan. Durante sua investigação, quase foi preso e por fim, não conseguiu nada. E não foi somente a parte de Cheng Yin ao esconder essa situação. A outra parte também se prontificou a enterrar completamente esse caso.
Em algum momento da noite, perdeu o Zhuo mais novo e acabou atrás do mais velho. Este, por sua vez, era alguém muito mais interessante que o irmão. Da festa, os seguiu até a área de lazer e dali foi até a entrada da mansão onde ocorreu uma confusão. Ele continuaria os seguindo se não tivesse visto algo mais interessante: o chefe da segurança conversando com um policial.
Numa situação corriqueira, não se interessaria por isso, porém aquele policial em questão era um dos policiais mais corruptos da cidade e, levando em conta a reputação de Song Yu, era viável de suspeita.
— Tsk! — estalou a língua.
Xiao Ming levantou a barra do vestido para voltar a andar enquanto lançava insultos mentalmente para Zhuo Yang. Aquele miserável. O obrigando a usar um vestido! Foda-se, caralho!
Ele deu alguns passos antes de ser puxado para trás, sua boca foi tampada o impedindo de gritar por ajuda. Seu corpo foi pressionado por outro no escuro e foi colocado entre a parede.
— Deve estar louco para me ligar num momento como esse Miller. Você sabe que os homens dele estão por toda a parte. — Song Yu falou depois de dar uma tragada no cigarro.
Ele escorou na parede lateral da casa.
— O que você quer? Não me ligaria sem motivo… Sim, tudo saiu conforme o planejado… — deu uma risada — Essas jovens que você arrumou me deram um prejuízo enorme. Vou precisar repor alguns uniformes!… Ele saiu bem arrasado. Ninguém espera ser humilhado dessa forma… Assim que a segunda parcela for liberada, farei o restante do trabalho… — de um segundo para o outro, mudou o tom de voz a deixando mais grade e profunda — Miller não tente me ameaçar, não sou seu amigo. — de onde estava, foi possível vê-lo apagar o cigarro no próprio tecido do terno — Tente me ameaçar novamente, acredite, irei mandá-lo para o samsara rapidamente.
Song Yu desligou a ligação e chutou a grama com raiva.
— Desgraçado! Maldito vagabundo! — ele saiu com raiva para onde estava anteriormente, a fim de levar o celular de volta para o seu dono.
O policial e Song Yu conversaram brevemente antes dele sair apressado para algum lugar. Foi nesse momento que Xiao Ming foi solto por aquela pessoa.
— Se vai seguir alguém, Sr. Xiao, ao menos deveria se esconder corretamente.
O homem saiu das sombras, mostrando sua verdadeira face. Seu olhar típico, carregado pelas olheiras e pelo sono, a jaqueta do couro que sempre estava alinhada ao seu corpo e o distintivo policial no peito. Era Chun Hai, o detetive.
Xiao Ming não o conhecia, então simplesmente o afastou com brutalidade, não apenas porque era um policial. Mas por que poderia não ser um policial e ser um tarado. Uma festa à fantasia poderia trazer muitos desejos guardados à superfície calma. Além disso, havia a possibilidade dessa pessoa ser um stalker.
— Não sou um tarado… nem um stalker. — respondeu casualmente.
— Nunca diria, se fosse. — o paparazzi retrucou.
— Acredite, há pessoas movidas por esse orgulho. — bateu as roupas, como se tirasse a poeira delas. Uma poeira inexistente. — Além disso, Sr. Xiao, para sua segurança… você nunca me encontrou aqui.
Chun Hai abriu um sorriso educado, mas que naquele momento, para Xiao Ming pareceu um tanto assustador e ele engoliu a seco. O detetive saiu como o havia encontrado, sem muitas explicações, de maneira abrupta.
Quando Xiao Ming se deu por si, já não havia mais ninguém na frente da casa e também partiu. Voltaria a seguir seu plano, atrás do chato Zhuo Fan que somente sabia enfiar o pau dentro de uma mulher ou beber o suficiente para ser capaz de entrarem coma alcoólico.
Tirando o fato de ter encontrado algumas notícias interessantes e picantes a cerca de alguns desses famosos da mídia, nada o fez se alegrar. Homens casados de meia se envolvendo com modelos que mal havia saído da adolescência, pessoas se relacionando e enganando a outra para conseguir algum sexo casual, drogas circulando livremente na festa, um casal maldito fodendo dentro da piscina. Nada de novo. Era um comportamento habitual e animalesco que se encontrava nesse tipo de festa e, levando em conta o anfitrião, não era de se esperar menos.
Ele se aproximou do bar e pediu uma bebida sem álcool. Não demorou muito para que bartender trouxesse o pedido e agradeceu por isso, visto que, se concentrando em beber, esqueceria que ao seu lado tinha um casal de mulheres — duas influencers digitais — quase nuas esfregando-se uma na outra. Pelos céus! Foi a primeira e a última vez que vinha em uma festa assim!
Xiao Ming escorou o corpo no balcão e não demorou para os abutres se aproximarem, e todos foram dispensados o mais rápido possível com um aceno de mão e uma expressão obscura. Não tinha interesse em sexo, muito menos sexo casual. A última vez que teve uma experiência carnal foi durante a adolescência quando se masturbou quatro vezes seguidas e desmaiou, sendo acordado numa ala médica depois de quase sofrer um infarto.
Ele achou que a falta de ar que sentia era devido ao novo sentimento que estava tendo. Porém, infelizmente, não se tratava disso, mas da falta batimento do seu coração.
Depois desse dia, ele realmente nunca mais tentou nada: nem sozinho nem acompanhado. Não desejava desencadear as consequências da insuficiência cardíaca novamente, gostava muito de sua vida para tentar algo tão arriscado novamente. Desde que não tivesse um choque brutal ou um esforço físico muito grande, teria uma vida tão longa quanto um monge tibetano.
Oh! E por lembrar-se das tentações carnais que poderiam lhe causar a morte, uma em especial estava se aproximando do bar, completamente bêbado. Os cabelos castanhos claros com um toque dourado se destacavam na multidão. O chapéu de pirata havia desaparecido há muito, muito tempo…
— Duas doses de vodca pura. — pediu ao bartender e logo em seguia imitou o gesto de Xiao Ming, escorado no balcão — Meu stalker desistiu de me seguir? — ele aproximou seu rosto, o que fez o paparazzi sentir o álcool impregnado nele.
— Afaste-se, você está fedendo. — empurrou-o pelo ombro.
Zhuo Fan riu, bastante animado.
— Que agressivo! — inclinou a cabeça para o lado — Foi Yang Ge que pediu? Outra pessoa? — desabotoou o botão da jaqueta enquanto esperava uma resposta.
— Se você sabe, qual o sentido da pergunta?
— Gostaria de ouvir a voz do meu stalker.
Xiao Ming bufou.
“Que personalidade quebrada!”
— Desapareça daqui. — olhou para Zhuo Fan com seriedade.
O Zhuo riu. Riu descaradamente enquanto pegava a dose de vodca e bebia tudo de uma só vez. Isso deixou Xiao Ming assustado! Quem tomaria isso de uma só vez? Que tipo de russo psicopata era essa pessoa?
“Por Buda! Que morra de cirrose!”
De repente, Zhuo Fan perguntou depois encarar o paparazzi por algum tempo.
— Por que você só fica revirando os olhos? É… — estreitou o olhar, analisando a feição do outro e se aproximou, falando em seu ouvido — meio sexy. — sorriu.
— Se vai tentar me seduzir, para que eu possa fazer sexo com você, prefiro que me pague em dólares. Eu sou hétero e você também. — bufou novamente — Não tenho interesse no irmão do meu chefe.
Assim que terminou de falar, Zhuo Fan deu uma risadinha.
— Tudo tem sua primeira vez.
— Prefiro manter minha bunda intacta, senhor.
O mais velho, cujos sentidos estavam confusos pelo álcool, se aproximou de Xiao Ming, deixando-o preso entre o balcão e ele.
— Vai dispensar alguém tão bom?
O paparazzi achava que a auto estima elevada deveria ser alguma coisa genética ou herança familiar. Mas era impossível negar o quão atraentes e cobiçados esses dois irmãos eram. Ainda mais o asceta na sua frente: ele nunca conseguiu descobrir nenhum caso amoroso dele, nem no colegial.
Mas, o filho da puta estava na sua frente, tentando contribuir para aumentar os índices de casais homossexuais no mundo, além de sua notória contribuição em relação aos homens ascetas que gostam de nádegas virgens.
— Sim.
Xiao Ming permaneceu inalterado. Estava acostumado com esse tipo de bêbado curioso. Aqueles que marcavam um idiota para ser usado e depois descartado. Zhuo Fan não foi o primeiro e provavelmente, não seria o último.
— É uma pena… sua boca parece tão boa… — lambeu os lábios — Ela sabe fazer outra coisa a não ser responder tão rude?
Xiao Ming o ignorou, sua irritação foi visível. Mas, ao contrário de qualquer outra pessoa com juízo perfeito, Zhuo Fan segurou seu rosto.
— O que está tentando fazer?
Um segundo. Dois segundos. Quinze segundos. Xiao Ming estava começando a ficar preocupado. Ele queria vomitar? E se vomitasse nele? Ele não iria lavar esse vestido! Ele não tinha dinheiro para lavar esse vestido!
Enquanto ele ficava perdido em pensamentos, o bêbado curioso simplesmente o beijou. Mas, não era uma tentativa qualquer de beijo! O vagabundo parecia realmente desejar desfrutar da carne ali mesmo. Xiao Ming, quando seus sentidos retornaram, o empurrou tão forte que ele cambaleou para trás.
Ele se aproximou com raiva e lhe deu um tapa forte o suficiente para deixar a marca dos cinco dedos em seu rosto.
— Seu filho da puta!
Xiao Ming segurou a barra do vestido e saiu dali.
“Foda-se o trabalho! Não farei mais isso!”
Ele nunca havia sido desrespeitado tanto assim em sua vida! Como alguém poderia agarrar outra pessoa assim do nada! O pequeno paparazzi saiu com o rosto vermelho de raiva. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e as bochechas infladas.
Beijar uma pessoa por querer ou simplesmente beijá-la por causa do serviço estava dentro de seus limites. E até o momento, não havia encontrado alguém que desejasse o seu corpo para que testasse esse limite. Ele também tinha medo de tudo isso, de tentar algo e morrer por causa disso.
Mas, não podia aceitar ser forçado. Preferia tirar sua própria vida do que ser forçado.
De repente, a água de uma poça se transformou num oceano. Ele saiu tropeçando pelo jardim esfregando os olhos com força e, merda! Não podia esfregá-los pois estava de lente!
“Que vida de merda!”
Xiao Ming se sentou na calçada, no lugar mais escuro e começou a chorar baixinho. Na verdade, ele se perguntava o porquê de estar chorando se haviam roubado somente um beijo dele! Nem era seu primeiro beijo! Porra! Quer dizer, era seu primeiro beijo e foi roubado por um pervertido de merda!
Ele queria muito estapear essa pessoa de sobrenome Zhuo!
— Camon, man! — de repente, a pessoa de sobrenome Zhuo sentou-se ao lado dele pronunciando um inglês britânico perfeito — Sorry.. Perdoe-me por isso. — passou os cabelos para trás — Fui um completo babaca, eu mereci o tapa.
Zhuo Fan prometeu a si mesmo que nunca mais beberia dessa forma outra vez. Não gostava desse tipo de festa por causa disso, porque não era apenas algo casual ou comum.
E ele tinha que ter feito isso! Se o avô ou a mídia souberem, isso não ia agitar somente colunas de fofoca. Também iria explodir em todos os tablóides e estampar revistas como o filho mais novo dos Zhuo era na verdade, um pervertido.
“Zhuo Fan, você é um inútil mesmo!!”, xingou a si em pensamento.
— É claro que mereceu! — fungou — Você é um canalha!
— E por qual motivo está chorando? — massageou a bochecha e sussurrou — Sua mão é pesada…
Misteriosamente, o tapa que recebeu havia lhe deixado sóbrio num segundo.
— Um cafajeste roubou meu primeiro beijo! Eu te odeio!!!
Na visão de Zhuo Fan, naquele momento, Xiao Ming parecia um gato inofensivo e bravo.
— O que está dizendo? Quantos anos você tem? Dezoito?
Xiao Ming inflou suas bochechas.
— Qual o problema de um jovem rapaz de vinte e dois nunca ter beijado!? — ergueu ligeiramente o queixo — E porque eu tenho que explicar is…
O jovem parou de falar do nada e seus olhos se desfocaram.
Zhuo Fan: “…”
Xiao Ming havia caído em seu ombro. Quer dizer, havia desmaiado.