22. Reunião Familiar
Zhuo Fan estava sentado no sofá da sala, vestindo apenas um robe de seda e uma bermuda de linho. Seus pés estavam na mesa de centro, cruzados, um sobre o outro e a vitrola no canto da sala, ligada num disco de Chopin. Nas mãos, uma grande xícara de café para tentar amenizar a ressaca. Estava tão quieto que até parecia uma estátua, mexer a cabeça, mexer o corpo não era uma opção naquele momento.
Ele fechou os olhos e apreciou o amargo do café e finalmente relaxou o corpo no estofado macio. O que raios havia feito na noite anterior? Jogou a cabeça para trás, no encosto e olhou para cima, para a porta do seu quarto no segundo andar.
Além de ter bebido o suficiente para uma vida inteira numa só noite, forçado alguém a um beijo, ainda o trouxe para casa: prova do crime estava dormindo feito um anjo em sua cama. Esfregou as têmporas com uma das mãos exercendo força o suficiente para que ignorasse a dor de cabeça.
O que era pior, para ele, era o fato de ter descoberto o marca-passo no peito de Xiao Ming. Certo, ele também descobriu o nome dele após ter pegado a carteira de motorista e feito um dossiê enorme sobre ele. Depois de ter lido tudo sobre a vida dele, não encontrou nada demais, além de ser um paparazzi conhecido no ramo por ser implacável. O restante era o habitual: vindo de família humilde, largou o ensino médio para cuidar da saúde e não retornou. Decidiu se tornar paparazzi quando viu uma chance de escapar da pobreza.
— Merda, isso foi patético… — respirou fundo sentindo uma pontada de dor.
Ele fechou os olhos e estava prestes a cochilar quando a porta do apartamento se abriu. A única pessoa que entraria assim era seu irmão mais velho.
Assim que a porta se abriu, Zhuo Yang entrou e para sua surpresa, suas roupas estavam completamente desalinhadas. Os botões da camisa abertos até a altura do peito, mostrando a pele marcada por pequenos hematomas avermelhados, ele carregava a jaqueta no antebraço e tinha uma aparência cansada, como se tivesse passado a noite acordado. Maldito, ele pensou, mostre a todos que você transou feito um cachorro no cio!
O irmão mais velho falava com alguém no celular e quando o viu, despediu-se na ligação.
— Está horrível, irmão. — o mais velho falou ao se jogar no outro sofá.
Zhuo Fan riu.
— Você não está melhor. Que tipo de pessoa o deixou exausto a esse ponto?
Zhuo Yang riu antes de responder:
— Eu estava bem depois de foder com Ling Shan algumas vezes, mas alguém me fez ter mais trabalho A-Fan… aquele desgraçado do Miller. — seu olhar ficou mais escuro — Eu vou matá-lo pessoalmente.
Depois de precisar sair apressado e relutante da mansão de Ling Shan, o Zhuo mais velho correu para o porto antes de amanhecer. Precisou dirigir quarenta minutos debaixo de chuva e se deparar com um acidente que custou uma hora de sua vida para chegar às quatro da manhã no cassino.
E ao chegar no seu destino, Zhuo Yang precisou intervir com as próprias mãos e jogar um cadáver no rio. Miller, o desgraçado, havia iniciado um tiroteio com seus homens por causa de duas prostitutas. Se não fosse tão ridículo, Zhuo Yang riria disso, mas sabia para quem
A visão de Zhuo Fan se estreitou.
— Quando chegar, irei ajudá-lo.
— O que aconteceu com você? — encarou o irmão mais novo com desconfiança — Foram quantas mulheres para lhe deixar assim?
O irmão mais novo revirou os olhos.
— Por que mandou uma sombra atrás de mim?
Zhuo Yang levantou o tronco e se sentou no sofá, desabotoando a camisa branca. As marcas em seu corpo ainda estavam avermelhadas e surgiam uma a uma enquanto tirava a camisa. Ele dobrou a camisa perfeitamente e a colocou sobre a mesa de centro, antes de responder o irmão.
— Pelo mesmo motivo que reforcei a segurança da mansão e também de Xiao Xia. — ele se esparramou no sofá abrindo braços e pernas e tirou um maço de cigarros do bolso, acendendo um — Alguém está interferindo em nossos negócios… não acho que seja Ling Zhan.
— Desconfia de alguém? — Zhuo Fan inclinou o corpo para frente, mudando de posição e colocou a xícara meio cheia na mesa de centro, colocou os cotovelos sobre o joelho — Uma pessoa capaz de incomodá-lo a esse ponto e você não saber?
— Estava pensando em usar os velhos métodos. De quando éramos jovens. — abriu um sorriso que era pura malícia — Não é o ideal, mas seria o efetivo.
Zhuo Yang soprou o veneno para fora do corpo e a fumaça do cigarro subiu até desaparecer. A atmosfera entre eles, ficou tensa. O mais velho estava com uma expressão pensativa enquanto o mais novo franziu a testa sentindo ainda mais dor na cabeça.
E o silêncio foi quebrado com o toque do celular do empresário. A notificação de uma mensagem apareceu na tela de bloqueio endereçada do seu caso de amor da noite que havia passado. Anexado a uma frase, havia uma imagem de visualização única.
[De: Ling Shan]: img.jpg
Yang Ge, você esqueceu a cueca aqui em casa.
Uma risada sincera e espontânea saiu de seus lábios. Na verdade, ele gargalhou antes de respondê-lo. Pior que ele saiu com tanta preocupação que nem percebeu se havia vestido a cueca. Ele apalpou a pélvis para verificar a situação em que se encontrava e agora, percebendo isso… era estranho seu membro em contato ali com aquele tecido. Estava livre demais…
Zhuo Fan vendo seu irmão sem camisa, olhando para a tela do celular e apalpando o pau: “…”
Ele achava que o irmão tinha perdido completamente o bom senso. Não, de fato, Ling Shan e ele combinavam, olhando de uma nova perspectiva. Essa personalidade quebrada combinava completamente com o que aquele cantor esquisito tinha a oferecer, já que eram pessoas com o mesmo tipo de mente despedaçada e fragmentada.
A partir desse momento, decidiu que iria apoiá-los nesse relacionamento. Seu irmão precisava de alguém que fosse capaz de acompanhá-lo na mesma intensidade de loucura.
Ele viu o irmão digitar no celular com um sorriso que lhe dava muito, muito medo. Um sorriso com uma astúcia esquisita, mas feliz. Contudo, se fosse capaz de ler a mensagem que foi endereçada à Ling Shan, certamente chutaria Zhuo Yang da cobertura direto para o térreo.
“Não pense em usá-la secretamente. Espere
que eu esteja do seu lado quando isso acontecer.”
“Não tive tempo para lhe dizer: Feliz aniversário!”
“Que esse ano possa ser o ano de seu renascimento”
Zhuo Yang bloqueou o celular e voltou a conversar com o irmão, como se nada tivesse acontecido.
— Fan, a propósito, de quem é aquele par de sapatos ali? Você trouxe alguém para casa? — se referia a um par de saltos azul claro de tiras finas, que por algum motivo lhe pareciam familiares — Não já conversamos sobre isso? Não trazer ninguém para casa? Xiao Xia simplesmente odeia saltos e nem usa, então não seria dela.
— Ah… — olhou para o hall de entrada — Não sabia o que fazer com seu stalker quando ele desmaiou no meu ombro.
— E aí, você trouxe um paparazzi para nossa casa? — perguntou incrédulo.
— Sim e quando eu o despia para colocá-lo em minha cama, descobri que ele usa um marca-passo. Qual o seu problema em usar pessoas assim?
— Não vejo problema algum, Fan. Uma pessoa como ele, trabalhando numa indústria como o entretenimento, e sendo capaz de controlar a sua própria doença que poderia ser um empecilho. — falou consciente de suas palavras — Não o vejo como uma pessoa frágil.
— Yang ge, sabe exatamente o que quis dizer. — seu tom erra irritadiço e ele se levantou — Não seja tão frio!
Ao mesmo tempo, um barulho foi ouvido. Os dois olharam para a mesa de centro.
A xícara que estava meio cheia, havia acabado de tombar sobre o móvel e escorreu pela camisa de Zhuo Yang. O líquido preto com um odor poderoso, também fluiu para a beirada, derramando sobre o tapete branco. A veia da testa do Zhuo mais velho subiu e, encontrou as írises coloridas do mais novo:
— Da última vez, gastei cinquenta mil dólares porque meu irmãozinho de quinze anos, decidiu colocar alvejante e manchou todas as minhas roupas. — respirou fundo — E hoje, ele decide manchar uma peça exclusiva e um tapete de trinta e cinco mil dólares… o que eu devo fazer com ele?
— Vá se foder Yang ge! Café é mais fácil de ser lavado do que porra.
E assim, esses dois adolescentes, um de trinta e cinco anos e o outro de vinte e nove anos, correram pela casa seminus por causa de uma simples xícara de café.
~♪~
Do outro lado da cidade, Ling Shan havia acabado de acordar. Depois de ter recebido a resposta de Zhuo Yang, ele se sentiu um pouco tímido pela falta de um filtro nas suas palavras. Foi a primeira vez encontrando alguém pior que ele e, por isso, sentia-se um pouco animado.
Jogou o telefone de lado e olhou ao redor. O quarto estava uma bagunça, eles tinham usado todo tipo de lugar ali dentro para seus atos, então não havia sequer algo em seu lugar correto.
Ling Shan sorriu mordendo os lábios. Havia sido excelente, apesar do cansaço que sentia e da dor em seu quadril. Teria feito mais vezes, se aguentasse. Yang Ge foi capaz de extrair tudo dele e realmente havia se esquecido de tudo desde que se liberou pela primeira vez com ele.
Embora o sexo tenha sido um tanto intenso em alguns momentos, não se sentiu inquieto. Quando veio a este mundo, havia sido pego numa situação complicada e foi incapaz de pensar em algo e somente seguiu, mas depois sentiu inquietação por ter feito aquilo, mesmo sem tê-la demonstrado. E ele desejava por mais disso, era algo a se admitir, pois se sentiu muito bem.
O cantor saiu da cama para a banheira e enquanto relaxava, foi conferir o aplicativo de mensagens. Havia muitas felicitações de aniversário e muitas fotos sendo enviadas por pessoas que estavam em sua festa.
Da parede de vidro do banheiro, era possível ver o quão bagunçado e sujo estava o quintal. E falando nisso, era a primeira vez que entrava numa banheira. Muito melhor do que pensava ser. Uma vida luxuosa e extravagante… poderia se acostumar com isso.
Ling Shan cantalorou uma música enquanto descia as conversas. Ele franziu a testa. Quinze minutos depois, ele pegou o carro e dirigiu em direção a mansão Ling. Sua expressão facial assustou todos os seguranças e empregados que o encontravam e estava tão perigoso quanto o dia da conferência de imprensa.
Um comportamento infantil vindo de dois velhos! Porra! Era um nível novo! Agora sabia exatamente o porquê de sua irmã e cunhado apareceram em sua festa ontem. Conhecia muito bem o motivo de o porquê ter ‘sequestrado’ Ling Ai na escola.
A BMW escura parou no sinal na avenida principal da cidade H. Os dedos estavam inquietos segurando o volante. Ele apertou no painel digital para fazer uma ligação e não demorou para que conectasse.
— Sr. Chun, preciso de mais um serviço seu.
“Oh! Isso vai aumentar o preço.”
— Dinheiro não é problema, você sabe. Eu gostaria que…
A mansão Ling ficava num condomínio numa parte luxuosa da cidade H, onde apenas aquele um por cento da população seria capaz de morar. Ele passou pela entrada facilmente, o que se tornou uma surpresa, visto que havia anos sem retorno. Uma risada frívola se formou em seus lábios e ele tirou os óculos escuros.
A arquitetura da casa, diferenciando-se das mansões no estilo clássico chinês, foi construída no estilo europeu vitoriano com quase dois mil metros quadrados. Havia um jardim na frente e nos fundos, era ainda maior. Ele estacionou na rua, sem querer sujar as rodas de seu carro. Já bastava a sola dos sapatos.
Saindo do carro, ajustou a jaqueta. Na porta da casa, dois seguranças estavam-no esperando. Um deles, cujo Ling Shan reconheceu como sendo um dos antigos casos estrela cadente do falecido e o outro, era um daqueles que seguia Cheng Yin para todo lado, como um cachorro e também, fazia parte do “esquema de prostituir uma estrela famosa”. Um dos primeiros homens que o falecido Ling Shan havia sido obrigado a transar.
Ele o encarou por alguns segundos, sua expressão ainda muito severa. Até pensou em ficar calado, mas quando percebeu, suas mãos estavam no pescoço daquele infeliz. O segurança estava caído no chão e Ling Shan sobre ele.
— Naquela época, você apertou meu pescoço dessa maneira. — o homem estava com dificuldade de respirar, ele segurava os pulsos do cantor tentando afastá-lo — Você não irá conseguir se soltar.
No passado, enquanto estava com Chun Hai, aprendeu várias técnicas de autodefesa e contra ataque, além de ter aprendido, na vida, a não apanhar sem revidar.
— Então essa era a sensação. — um sorriso malicioso se abriu — Faz sentido… é prazeroso ver um verme inútil se contorcer.
Ling Shan o segurou por mais alguns segundos antes de soltá-lo completamente.
Quando o segurança enfim se levantou, segurando o pescoço ele tossiu algumas vezes. Ele olhou o cantor entrar pela porta da frente com a cabeça erguida. Lembrava-se que a última vez que estivera ali, foi saindo correndo pela porta da frente, com o corpo cheio de hematomas e um olho roxo. Estava tão assustado e parecia perdido com apenas uma mala pequena e a mochila escolar. Naquela época ele chorava tanto que tropeçou várias vezes antes de chegar à calçada e entrar no táxi.
Depois disso, o reencontrou nos palcos, vendendo o seu corpo e o achou patético. Entretanto, essa pessoa que viu hoje, não era mais um gatinho assustado. Ling Shan parecia um dragão que criou seu reinado à força.
E esse dragão abriu a porta com força. Ela bateu na parede, causando um estrondo. Ling Zhan e Ji Meixiu estavam sentados na sala, um conjunto de chá estava sobre a mesa. A elegância dos seus movimentos e postura impecáveis nunca deixaram revelar o eu verdadeiro dessas duas pessoas. Ao entrar na sala, percebeu que, no canto estavam Cheng Yin e Ling Meili, a irmã sentada na poltrona acariciando a barriga e o demônio atrás dela com as mãos no encosto.
Ling Zhan, tinha uma aparência jovem, sem um único fio de cabelo branco. Vestia-se formalmente com um terno. Ele reconheceu seus traços na pessoa que deveria ser seu pai: formato dos olhos e sobrancelhas, a textura do cabelo, a cor dos olhos, mas não conseguia reconhecer nada de sua suposta mãe.
— Reunião familiar? — zombou.
— Sente-se, Ling Shan. — o pai falou.
Olhou em volta. Era uma casa luxuosa com móveis também voltados à era vitoriana e alguns toques modernos, havia muitas pinturas também, mas parecia vazia por dentro. As cores neutras e obscuras, com cortinas também escuras não proporcionava uma sensação de aconchego. O feng shui desse lugar também era carregado, pesado. O tapete de camurça estava sendo pisado por um par de botas sociais e um escapin preto de fundo avermelhado.
Nas memórias de Ling Shan, essa casa era um tipo de prisão. Uma prisão aberta na qual poderia sair por um tempo, mas no final, era impossível escapar. Um lugar que, quando saiu, nunca mais desejou retornar.
Por fim, decidiu se sentar.
— Onde está Ling Ai?
— Ele está estudando em seu quarto.
— Traga-o. — insistiu — Ou vou pegá-lo e levá-lo à força.
O pai Ling deu um sorriso de lado.
— Se eu quisesse, você nunca teria sequer subido a um palco.
Ling Shan arqueou uma sobrancelha, parecendo curioso.
— Senhor Ling. — o homem travou o maxilar, detestava que os filhos o chamassem pelo nome. Ele mesmo vinha de uma família muito rígida e chamá-lo dessa forma, provavelmente, era uma das coisas mais desrespeitosas — Vá direto ao ponto, o que vossa excelência deseja? Há muito tempo, já recebi e assinei a demissão da família, abrindo mão de toda e qualquer herança ou bem. Não acredito que precisemos criar curvas e enrolar.
Ling Shan cruzou as pernas e os braços simultaneamente.
— Filho, não seja assim com o seu pai. — Ji Meixiu se posicionou.
O filho ignorou a presença de sua mãe, que acabou por descobrir, há pouco tempo, através da investigação de Chun Hai, não ser sua mãe biológica.
Isso não o chocou tanto quanto, ao ler no dossiê, sobre como Ling Shan veio parar nessa família. Ling Zhan tinha uma amante, uma mulher pobre, mas deslumbrante. Ficaram alguns meses juntos, mesmo após o casamento com Ji Meixiu e ambas engravidaram ao mesmo tempo.
As duas crianças nasceram no mesmo dia, mas o filho de Ji Meixiu morreu no parto enquanto o filho da amante nasceu lindo e saudável. A mulher, inconformada com a morte do filho, deixou que a irracionalidade fosse seu guia e convenceu o marido a pegar o filho bastardo para ela criar.
Ling Zhan, vendo a esposa sofrer tanto e prestes a fazer uma loucura, o que poderia prejudicar sua reputação, tomou a força o filho da pobre mulher e deu o filho para ela criar. Mas, o que ele não esperava era que, durante os primeiros meses de vida, Ji Meixiu tentou matar o bebê Ling Shan várias vezes.
Por alguns anos, até a chegada de Ling Meili, ela foi internada numa clínica psiquiátrica no exterior onde não tratou apenas da depressão pós-parto, mas também da paranóia que criou depois disso. A mulher que Ji Meixiu se tornou, foi somente devido aos remédios de controle que usava. Sem eles, ela se tornava uma pessoa totalmente diferente.
Mas, enquanto essas pessoas não tocassem na sua escala reversa, não jogaria tão baixo. Ling Ai era a única pessoa dessa família que poderia ser capaz de viver uma vida diferente, tanto da dele quanto de sua irmã.
— Esposa, esse não é um assunto para mulheres. — o homem a repreendeu e virou o olhar para o filho, que havia feito questão de deixar suas tatuagens à mostra e também se vestiu como ‘um demônio’, como o pai o apontava — Sua coragem aumentou depois de se juntar com um daqueles Zhuo.
Ji Meixiu baixou a cabeça e se afastou do marido, como uma boa esposa e obediente.
Ele abriu um sorriso divertido. Parecia gostar bastante das palavras do pai, o momento perfeito para experimentar. “Então é com isso que ele está receoso…”
— Meu namorado — olhou discretamente para o lado enquanto abaixava a cabeça e quando levantou novamente, foi para encontrar o olhar demoníaco do pai —, ele está me ensinando algumas coisas, Sr. Ling.
A mão que segurava a xícara de chá apertou-se contra a porcelana.
— Ling Shan… Ling Shan… você é realmente capaz! Primeiro, você seduz seu cunhado e depois se alia ao inimigo! O que eu fiz para merecer um carma como você!
Um bufo irritado saiu de Ling Shan.
— Acho que sou eu quem deveria dizer isso. Afinal, vossa excelência foi uma figura paterna digna de respeito e inveja.
Ling Zhan riu de desgosto.
— Além disso, papai… — estreitou os olhos — não ache que sou aquele adolescente incapaz de levantar a voz, que saiu morrendo de medo dessa casa. Passei pelo inferno o tempo que estive fora. Não preciso de você, não preciso do seu dinheiro, nunca precisei.
Ling Zhan respirou fundo.
— Então devo ficar tranquilo? Seu nome ainda é Ling.
Que se foda, jogar limpo! O que esse homem queria, afinal?
— Sou um Ling, infelizmente. Mas, pelo menos, não sou um Ji. — falou sugestivo — O que eu desejo é que meu irmão possa viver diferente de mim e também de Ling Meili.
A sala, de repente, ficou quieta. O choro de Ji Meixiu foi ouvido quase de imediato, as palavras do filho tocaram num ponto sensível no seu coração.
— O que está dizendo Ling Shan!? Respeite sua mãe! Não seja grosseiro!
De repente, ele se levantou.
— Ela pode ter me criado, comparecido às minhas questões, mas ela nunca foi uma mãe de verdade para mim! — esse sempre foi o sentimento do original — Ji Meixiu me maltratava e quando o papai estava longe, me deixava sem refeições enquanto jogava a comida fora depois de comer com sua filhinha querida! Então vá se foder vocês dois! — apontou o dedo para ambos — Não preciso respeitá-los se nunca tiveram isso comigo!
O pai Ling também levantou e deu a volta na mesa de centro ficando de frente ao filho. Ele aumentou o tom de voz.
— Acho que faltei com sua educação!! — seu tom era grave quando arregaçou as mangas do terno.
Ling Zhan levantou a mão para bater nele. Cheng Yin ia dar um passo para frente, para tentar impedir o sogro de fazer algo irreparável, mas sua esposa o segurou pelo braço. Por reflexo, o cantor se encolheu protegendo o rosto com os braços, mas o tapa nunca veio. O que ele escutou foi uma risada, algo que nunca viu o pai fazer. Ele deu um passo para trás.
— Você sempre será o garotinho medroso, Ling Shan. Herdou isso de sua mãe. — falou com uma expressão cruel — Mas, diferente dela, você aprendeu como latir e morder. Agora você sabe até mesmo cheirar.
Ling Zhan se afastou, indo até o bar. Ele abriu uma garrafa de gin e despejou uma dose no copo, em seguida, virando tudo na garganta de uma só vez.
— Tudo bem, leve seu irmão. — a raiva havia tomado conta do seu comportamento e ele respirou profundamente — Ele é tão inútil quanto você! Mas, não pense em levar nada daqui.
Apontou o dedo na direção de Ling Shan, seu rosto estava vermelho de raiva e ele arfava e bufava como um touro. Esse era o pai que o original conhecia: um homem rude, sem amor aos filhos e apenas os usando como ferramentas para sucedê-lo, ou como Meili, usada como moeda de troca num casamento. Ou ainda pior… Ele olhou para Cheng Yin por um instante.
Ling Shan estava sem palavras. Não era qualquer coisa que o deixava assim, mas isso… toda essa situação. Essa família! Pelos céus! Ele achava que só existia em dramas ou novels! Parecia irreal demais presenciar e estar vivendo toda essa história.
— Não se preocupe com pessoas inúteis. — sua expressão obscureceu — Pessoas inúteis não precisam de ajuda de pessoa tão úteis para a sociedade.
Ling Shan passou por eles e subiu as escadas. O trajeto estava marcado em seu corpo, ele poderia caminhar de olhos fechados. Primeiro quarto à esquerda, ao lado do seu. Ele abriu a porta.
Ling Ai estava sentado no canto da cama, em posição fetal e chorava baixo. O mais velho sentiu o peito apertar, se aproximou, lhe deu um abraço e sussurrou:
— A partir de hoje, nunca mais precisará de voltar nessa casa, Ling Ai.
Os olhos de Ling Shan, contra à luz da lua, obscureceram. Havia adicionado à sua lista de afazeres, destruir completamente essa família. Tanto por essa criança, tanto por Ling Shan e quanto por ele.