23. O barítono em meus pensamentos
Uma semana depois.
Assim como havia abandonado a mansão Ling no passado, Ling Shan arrumou seus pertences pessoais e abandonou a Dark Mansion.
— Você tem certeza disso? — Zhuo Ru perguntou.
Ling Shan abaixou os óculos escuros até a ponte do nariz e olhou por cima.
— É a primeira vez na vida que me sinto tão confiante. — girou os pés para o que um dia, o original, chamou de casa — Esse lugar não tem um bom feng shui. Vamos fazer a festa do pijama na casa nova!
Zhuo Ru deu um tapa de leve no ombro do amigo e o ajudou a colocar uma mala enorme no porta-malas do carro. Ling Shan deu uma última olhada na fachada da casa.
— Além disso, é um espaço muito grande para alguém como eu. — solitária e amarga — A cobertura também está próxima da escola de Xiao Ai.
Zhuo Ru lançou uma expressão desconfiada e colocou as mãos no quadril.
— Quem é você? O que fez com meu Ling Shan!? — falou, fingindo estar incrédulo e logo em seguida, dramatizou, colocando a mão sobre o peito — Essa pessoa tão madura não é meu Ling Shan!
O cantor sorriu.
— Há algo na frente, que será melhor.
Nesse momento, uma brisa passou por eles e Zhou Ru pareceu ter visto outra pessoa em seu amigo, melhor amigo. Alguém ainda mais forte e poderoso, maduro e um tanto gentil. Seus cabelos estavam presos num coque, que acabou por se soltar por causa do vento. Ling Shan passou a mão nos cabelos e juntou-os novamente, mas dessa vez amarrou com um elástico.
— E como está com Cheng Yin?
Zhou Ru passou seu tempo durante essa última semana com Ling Shan. Enquanto não estava trabalhando, se hospedou em sua casa e ficaram juntos quase o tempo todo, mas não o ouviu dizer algo sobre o louro amaldiçoado nem sobre seu novo affair, embora ocasionalmente, o visse sorrir enquanto digitava algo no celular ou, quando o amigo o esperava dormir para poder ligar para Zhuo Yang.
“Ele parece estar vivendo seu primeiro amor…”
— Mais tarde vamos assinar. A multa que irei pagar pela rescisão do contrato, valerá a pena. — deu de ombros — Será o ano do meu renascimento. — baixou a cabeça e sorriu ao se lembrar das palavras de Zhuo Yang.
Ah… Ling Shan suspirou. Parecia um pouco cansado.
Ele já estava rendido, se dobrado, curvado totalmente à ele. Como alguém que há tão pouco tempo entrou em sua vida, num momento tão conturbado, poderia deixá-lo dessa maneira?
Desde que trocaram contato, não passou nem uma noite sequer sem conversarem por ligação ou mensagem. Ele se sentia ansioso por esses momentos, que toda vez, eram únicos. A voz do outro lado sempre o acalmava e seu velho coração desenfreva-se a bater sem ritmo.
Mas, estava certo sobre algo. Não deveria se jogar nesse sentimento de maneira imprudente, sem analisar o poder destrutivo disso em sua vida. Quando no passado, se separou de Chun Hai, foi quase à loucura do desespero e quando se viu nesse novo corpo, o Ling Shan também estava num lugar decrépito.
Lin Shan passou anos de sua vida em solidão, amargurado pelo passado, desesperado pelo presente e com medo do seu futuro. Uma simples existência ansiosa para que o fim se aproximasse e, ao mesmo tempo sempre fosse retardado. Um ciclo vicioso de tristeza. Ele nunca foi a um psiquiatra, psicólogo ou terapeuta, mas intuitivamente, sentia a depressão em seus ossos, encarnados como uma desgraça absoluta.
A faculdade parecia uma tortura para ele e acabou por odiar uma das melhores coisas em sua vida. Quando olhava para as estrelas, ansiava por tocá-las e um dia, inesperadamente, sentiu que elas não eram atraentes o suficiente. Perdeu, aos poucos, seus desejos e sua vontade de ser.
Contudo, o fim do namoro não foi o ponto principal, mas o gatilho para sua miséria: sua vida, já era problemática. Detestava lembrar-se desse passado. Havia ganhado uma chance, os céus haviam compadecido de sua situação desgraçada.
Nos últimos tempos, ele sequer teve tempo de pensar no que ele já foi e isso o tirou da escuridão. Entretanto, sentia falta da mãe. A mulher que sempre estava presente em bons e maus momentos e que, por um fio, sempre o segurava na razão. Precisava encontrá-la nesse mundo, ainda que fosse alguém diferente.
— Shan? Ling Shan? — Zhou Ru o chamou, tirando-o de seus devaneios.
O cantor, ainda meio inerte, voltou sua atenção para o amigo. Estava com um pequeno sorriso no rosto.
— Zhou Ru, no próximo ano, vou ganhar um disco de diamante. — dito isso, ele puxou o amigo para dentro do carro e acelerou pelo asfalto.
Cerca de uma hora depois, passaram pela porta do condomínio. Donna os esperava na entrada do elevador do estacionamento. Estava com os cabelos amarrados num rabo de cavalo alto e um terninho risca de giz, ao lado dela uma mulher alta e loura conversava com a assistente. Era Ning Yu, a secretária pessoal de Zhuo Yang.
Quando as duas viram Ling Shan e Zhou Ru andarem em sua direção, pararam de conversar e Ning Yu se adiantou.
— Olá, Sr. Ling. Meu chefe pediu para dar-lhe boas vindas e mandou um presente. — ela esticou as duas mãos, entregando uma pequena caixa preta com um laço delicado e branco — Pediu para dizer que, ainda, não é um pedido de casamento.
O cantor abriu um sorriso, que espantou não somente a Donnah, mas também Ning Yu. As duas olharam para Zhou Ru incrédulas, mas ele deu de ombros. Era apenas seu amigo voltando a ser quem ele era antes de conhecer Cheng Yin.
Zhou Ru se lembrou de como se conheceram. Naqueles tempos, Ling Shan sempre ficava sozinho no próprio canto. A princípio, aquele adolescente introvertido não tinha uma aspiração alta como uma estrela do rock, mas treinava ativamente para se tornar um idol e se mudou para a Coréia durante dois meses, não ficando ao perceber como a mídia coreana não combinava com sua personalidade.
Ling Shan retornou a agência com sangue nos olhos. Ele não tinha amigos e, por se destacar completamente dos outros, as pessoas o isolavam. Ling Shan fez algumas apresentações solo de dança enquanto investia, nas horas vagas, em aulas de canto, guitarra e composição. Zhou Ru sempre se perguntava se ele era capaz de dormir.
E foi o que ele fez. Sua aproximação veio através dessa pergunta, ao qual Ling Shan simplesmente respondeu: “Eu durmo o suficiente. Três horas por noite.”
Desde então, ele tem seguido esse viciado em música e não havia como retrucá-lo quando dizia isso, porque toda vez que Ling Shan estava em contato com as partituras, instrumentos e principalmente um microfone, ele era outra pessoa. Ling Shan era alguém que nasceu para brilhar e deveria estar no maior palco deste mundo.
Durante esse tempo, Zhou Ru aprendeu muito com Ling Shan, brigou muito com ele, o acompanhou em várias noites internado, riu várias vezes com ele, correram da polícia quando decidiram fumar pela primeira vez, descobriu o interesse de seu amigo pelas estrelas, do quanto adorava, às vezes, não fazer nada e somente mergulhar no próprio mundo à buscar inspiração. O encontrou, uma vez, à beira da morte em casa.
Em vez de surpreso, ele estava contente. A maioria das pessoas não o conheciam e tinham essa reação quando sorria de verdade.
— Diga a seu chefe que só irei aceitar o pedido se for debaixo de uma chuva de meteoros, Sra. Ning. — respondeu de bom humor e pegou a caixinha — Agradeça-o por mim.
— Será uma honra, futuro chefinho. — brincou.
A brincadeira deixou Donna ainda mais surpresa. Embora tenha acompanhado todas as notícias depois que Ling Shan lhe deu alguns dias de folga, estava surpresa com a realidade e um pouco emocionada. Não via esse jovem dar um sorriso há anos.
— Não fale bobagens, senhorita Ning.
— É verdade, Ning Jiejie. O futuro é muito longínquo! — Zhou Ru completou com uma expressão séria.
Ling Shan ergueu a cabeça num movimento rápido e empurrou Zhou Ru pelo ombro.
O som de um obturador veio de trás do estacionamento. Com uma audição afiada, o cantor percebeu de imediato do que se tratava. Girou os pés e olhou para a direção que o paparazzi estava. Como era possível que essas pessoas pudessem entrar nesse lugar?
— Deixe que eu resolvo isso. — Donnah deu um passo à frente, mas foi impedida por Ning Yu.
— Fiquem tranquilos. Posso resolver isso. Estou com Yang Ge há muito tempo!
Ling Shan concordou, mas quando estava dentro do elevador, um pensamento lhe veio à mente: “Se eu tivesse uma vara de bambu, poderia espancar esse paparazzi até ele se render!”
Felizmente, aquele paparazzi saiu com vida do estacionamento. Quer dizer, Ning Yu poderia ter uma aparência, apesar de poderosa, bastante gentil e educada, do tipo que provavelmente não faria mal a uma mosca. Entretanto, se alguém trabalhava para Zhuo Yang, deveria ter alguma habilidade.
O pobre paparazzi, muitos dias depois, decidiu se aposentar da profissão e voltou ao velho trabalho de entregas de delivery e também na limpeza de cafés de restaurantes.
Mas, então, voltando ao presente, assim que chegaram à porta do novo apartamento, Ling Shan sentiu-se nervoso, o mesmo que lhe dava quando se jogava num projeto novo. Era uma ansiedade boa, aquela antecipação por algo melhor.
Era uma pena que Ling Ai não pudesse estar com ele. O garoto estudava numa escola cara, um colégio interno e só retornava para casa nos finais de semana. Gostaria de ter um algum momento em paz com esse rapaz, já que nunca teve com seu verdadeiro irmão.
O primeiro passo, com o pé direito, foi dado. Assim que tirou os sapatos e pendurou o casaco, Ling Shan sentiu o ar daquele lugar. Todo o apartamento foi decorado em estilo cyberpunk e industrial, com poucas plantas — porque ele nunca se lembra de regá-las — e cores neutras, com pontos de cor em azul e rosa em luminárias e decoração neon.
A sala integrada com a cozinha o fez se lembrar de sua antiga casa. No ensino médio, enquanto fazia o dever de casa na sala de jantar, conseguia ver a mãe cozinhar e conversava muito com ela nesses momentos. E isso durou até seu último dia de vida, era algo que apreciava muito.
Mas, o que havia gostado mais na cobertura, foi a hidromassagem do lado de fora. A vista daquela varanda era espetacular: os prédios coloridos, os carros passando nas avenidas, o contraste do pôr do sol e também do amanhecer. Tudo seria muito belo se visto dali. Iria aproveitá-la sempre que estivesse em casa.
Ling Shan puxou a mala para dentro, onde viu o elevador, bem próximo da escada em espiral.
“Em que mundo, eu poderia ter um elevador em casa sem ser este?”
Deu uma risadinha enquanto pedia o elevador.
— Fiquem à vontade, vou só jogar a mala no quarto.
Viu Zhou Ru e Donna concordarem enquanto iam para a cozinha.
A suíte principal, somente o banheiro, era do tamanho da sua casa antiga, e o closet caberia tanta roupa que ele poderia abrir sua própria marca.
Ling Shan fechou a porta atrás de si e sentou-se no chão, bem na entrada. Sua expressão murchou completamente e abraçou os próprios joelhos. Era cansativo sorrir o dia inteiro, estava tão cansado dessa merda, as mãos tremiam.
Ele se levantou parcialmente, levando somente o tronco para frente e abriu a mala com pressa. Estava na hora de tomar alguns dos seus remédios. Um formigamento tomou conta do seu corpo e a boca secou repentinamente.
O par de mãos se atrapalhou no zíper da bolsa de remédios, espalhando as cartelas por todos os lados e ficou confuso. Qual deveria tomar mesmo? Ele precisou olhar uma por uma, com os sintomas da abstinência aumentando, mas não conseguia achá-lo.
— Donnah! — gritou por ajuda — Donnah!
Ele se jogou no chão, vendo seu corpo perder a força. Ele parecia relaxado e ao mesmo tempo, tensionado e doía, doía como inferno cada pontada de dor. Sua assistente demoraria muito?
— Donnah!!! — sua voz se elevou mais — Donnah! Don…
Não precisou gritar mais, pois a porta se abriu abruptamente, com a mulher quase sem fôlego. Ela arregalou os olhos quando o viu deitado daquela maneira no chão. A mala revirada e os remédios todos espalhados. Zhou Ru havia chegado logo atrás, mas estava paralisado.
— Cartela verde… — sussurrou com dificuldade — remédio!
Ela se agachou apressada, e dividia sua atenção entre o corpo no chão e sua busca. Rapidamente ela o encontrou, mas notou que não havia água por perto. Por um segundo sua cabeça ficou vazia. Ela via Ling Shan ficar cada vez mais branco e trêmulo. Olhou em volta e encontrou um frigobar próximo à cama e puxou um vidro de água dali.
Os dedos mal conseguiram abrir a cartela de comprimidos, mas retirou dois e ministrou os remédios. Com sua cabeça confusa, logo depois, não soube exatamente o que aconteceu. Seu corpo pareceu ser recolhido do chão, ele sussurrava algumas palavras quase impossíveis de se escutar enquanto se agarrava, como um bebê, à Zhou Ru, que ajudava Donnah a tirá-lo do chão após aquela crise passar.
***
A cortina fechada impediu Ling Shan de saber qual era o horário. Ele se arrumou antes de descer para o primeiro andar. Enquanto descia as escadas, olhou para o relógio na parede. da cozinha. Eram seis da tarde, provavelmente, nesse horário, a demissão de Cheng Yin tenha sido assinada.
Seu olhar foi direcionado para a sala. O advogado estava ali conversando com Donnah, ou melhor, tentando um flerte com ela. Zhou Ru e Ling Ai estavam na cozinha conversando. O irmão mais novo sempre gostou muito da companhia de seu amigo.
Assim que chegou a sala, Donnah o avistou e cumprimentou.
— Está se sentindo melhor? — se levantou com um semblante preocupado.
— Fique a vontade, shijie. Estou melhor sim. — desviou o olhar para o advogado — Senhor Dong.
Ling Shan se curvou brevemente estendendo-lhe a mão. O homem já havia mu-dado a expressão, voltando para a sua habitual seriedade, suas sobrancelhas em formato de espada ficaram mais acentuadas e os lábios numa linha reta. Dong Yun ficaria mais bonito se colocasse um sorriso no rosto. Ele não parecia um homem de quarenta e dois anos! Parecia um velhote no fim de vida e amargurado! Grr…
Ling Shan: “…”
— Aconteceu algo? Sente-se.
O advogado Dong abriu sua maleta e tirou alguns papeis.
— Sr. Ling, seu ex-empresário insistiu em não assinar a demissão e deseja falar contigo pessoalmente antes de assinar.
O cantor franziu a testa.
— Isso não será possível.
Dong Yun suspirou.
— Prevendo sua resposta, Sr. Cheng disse que só assinaria depois de vê-lo pessoalmente e a sós.
Soltou uma risada incrédula.
“Esse filho da puta louco perdeu o juízo completamente.”
— Certo, vou enlouquecer com esse imbecil… libere o primeiro horário amanhã. Avise aos seguranças para não deixá-lo entrar sozinho. — cruzou as pernas e relaxou no encosto do sofá — Ele será acompanhado por alguém até meu escritório. Prepare alguns homens para fazer a segurança na porta. Se esse desgraçado tentar alguma coisa… sênior Dong, avise-o. Será o único horário que irei atendê-lo. Seria possível estar presente também?
— Como Sr. Ling desejar.
O cantor jogou a cabeça para trás, pensativo.
— Há algo mais que gostaria de falar, Sr Ling. — Dong Yun continuou, fazendo Ling Shan voltar à sua posição inicial — Cheng Yin não pretende devolver o controle das contas bancárias.
Instantaneamente, o cantor ficou tenso. Ele travou o maxilar e seu olhar se tornou mais escuro.
— Se ele insistir, avise-me. O que é meu, ninguém pode ter posse.
Dong Yun encarou seu cliente. Essa pessoa estava diferente em diferentes níveis, tanto de maturidade quanto de personalidade. A postura que assumiu, parecia como um velho astuto tentando recuperar suas posses.
O advogado pensou que isso era muito melhor do que aquela pessoa cujo único propósito era viver mergulhado no trabalho para esquecer todo o resto e quando não trabalhava, se humilhava por Cheng Yin. Quantas vezes, não apenas como um advogado mas como um ser humano, quis tomar medidas legais contra ambos.
Todo esse “divórcio” até facilitava seu trabalho. No entanto, pelo que soube, havia uma terceira roda se infiltrando: Zhuo Yang. Sendo sincero, estava muito mais preocupado com esse homem do que Cheng Yin, pois de todos os processos movidos contra ele, tal homem saiu ileso, a parte denunciante desistir voluntariamente do processo ou simplesmente desaparecer e não conseguir mais contato com ele.
— Ling Shan. — falou com seriedade e esperou que estivesse com a atenção dele para começar — Sei que é assunto pessoal, mas se deseja viver com maior tranquilidade, é melhor que não se aproxime de Zhuo Yang. — fechou sua maleta — Sobre outros assuntos, sou incapaz de falar algo sobre, mas judicialmente, é uma das pessoas cujo nenhum advogado deseja ir contra.
As pessoas nesse mundo se preocupavam muito com ele. Ele se sentiu um pouco emocionado por isso.
— Há uma diferença entre estar com alguém e não saber quem ela é, e estar com alguém e saber quem ela é. — respondeu vagamente, mas seu olhar emanava algum tipo de determinação desconhecida.
Dong Yun o observou durante algum tempo e por fim, se retirou.
— Certo, não há mais nada a falar. — se levantou — Nos vemos amanhã.
Ling Shan também se levantou para acompanhá-lo até a porta.
— Obrigado, sênior Dong. — curvou-se ligeiramente — Por todos esses anos.
O advogado franziu a testa, mas não respondeu e apenas se despediu com um simples aceno.
Nessa vida, muitas pessoas se preocupavam com ele e sentia-se um pouco emocionado por isso. Olhou para a porta fechada por um tempo, viajando para aquele tempo onde estava sozinho. Mesmo com todos esses problemas, ele não estava mais sozinho e sentia-se feliz por isso.
~♪~
À noite, no telhado, Ling Shan acendeu um cigarro. Ele ficou conversando com o irmão até ele dormir. O adolescente havia lhe contado sobre como estava a escola, como tinha poucas amizades e como havia esbarrado com Zhuo Xia e se tornou amigo dela. Ling Ai parecia muito feliz enquanto falava sobre seus dias, as notas e conflitos na escola e como ele gostava de jogar beisebol e sentia falta de jogar com o irmão.
Ling Shan prometeu que assim que fosse capaz, o levaria para jogar e também prometeu ir ao próximo evento escolar para torcer por ele. Ling Ai, pela primeira vez em muito tempo, conseguiu dormir cedo. Ele sentia muita falta do irmão que, a última vez que o viu pessoalmente, foi quando saiu de casa. E, desde então, só tem conversado com ele por ligação telefônica e poucas videochamadas.
Zhou Ru, ao ver a figura solitária do seu amigo contra o parapeito do terraço, abriu a porta da sala e foi até ele. O vento frio da madrugada o fez estremecer debaixo do grosso roupão. Ling Shan usava pouca roupa, apenas um robe fino de seda por cima do pijama e também estava descalço.
— O que está fazendo acordado tão tarde?
O cantor virou seu corpo, ficando de costas para a cidade.
— Não consegui dormir. — ele apontou para o violão no sofá, ao lado de vários papéis que estavam espalhados e outros amassados e jogados por todo o chão.
— Sua insônia voltou? — esfregou as mãos para esquentá-la e foi para o lado do amigo.
— Estive pensando no que fazer… — inspirou profundamente a nicotina.
— Esse seu olhar não é muito agradável. O que está aprontando, meu amigo?
O outro riu. Ele esfregou a ponta no cigarro no cinzeiro, apagando a cor vívida da brasa.
— Dong Yun tem razão. Você tem razão. Odeio admitir, mas… Cheng Yin tem razão. — tirou o cinzeiro do parapeito e o colocou sobre a mesa de centro e se jogou no sofá — Deixei que Yang Ge, pudesse me usar para o que ele quisesse, desde que me ajudasse com Cheng Yin. Provavelmente, estou entrando em uma situação perigosa, certo?
— Shan, você nunca foi alguém hesitante, o que está acontecendo? — Zhou Ru achou um lugar no sofá para se sentar — Não me diga que… — viu o amigo esconder o rosto entre os cabelos. Zhou Ru arregalou os olhos e ergueu o tronco do sofá deixando os braços cruzados — Você fodeu com ele uma vez e está tentando dizer que se apaixonou?
— Não foi uma só vez e… não foi apenas um dia. Sei quais são as intenções dele. — sua voz era calma, seu corpo relaxado e estava pensando racionalmente — Já lhe disse uma vez… e agora tenho certeza. Por isso estou pensando no que fazer, não quero me destruir sozinho outra vez.
Ele parou de falar por um instante e acendeu outro cigarro.
— Quero conhecê-lo… — suspirou —, quero satisfazer esse desejo egoísta em tê-lo para mim. Porém não quero que haja uma mistura de trabalho e desejo ou outros sentimentos. Além disso, temos um contrato. Me sinto extremamente confortável com ele, é estranho como consigo relaxar perto dele.
A mente de Zhou Ru deu um giro e voltou ao lugar. Ele realmente era um sapo no fundo do poço quando se tratava de seu melhor amigo. Quanto mais o conhecia, mais estranho parecia.
Percebendo o atordoamento de Zhou Ru, Ling Shan deu um tapa em sua coxa e o outro gritou.
— Que merda foi isso?
— Você e eu vamos a um lugar. — falou com o cigarro entre os dentes, havia uma sugestão de malícia que deixou Zhou Ru preocupado.
— E seu irmão? Vai deixá-lo sozinho em casa? — colocou os pés no sofá, abraçando as coxas.
— Nós vamos a um lugar para adultos. — a malícia cresceu em seus lábios — Além disso, Ai’er vai sair com Zhuo Xia, ele estava todo animado enquanto você transava à distância no meu banheiro.
As bochechas de Zhou Ru enrusbeceram. Ele achou que ninguém escutaria, tentou manter os gemidos mais baixos. Não sabia onde se esconder!
— Da próxima vez, feche a porta! Foi uma experiência traumática.
— Cale a boca! — empurrou o amigo pelo ombro.
Ling Shan riu. Era a primeira vez em muito tempo que sentiu esse sentimento fraterno.